Movida

Os espanhóis atravessam um período difícil, com a taxa de desemprego a aproximar-se perigosamente dos 30 por cento e, talvez, por essa razão e pelas imposições camarárias, fechou esta semana uma das discotecas mais emblemáticas da capital: a Oh! Madrid, antiga Buddha Del Mar.

dizem as crónicas que foi nesse espaço que os futebolistas campeões do mundo festejaram muitas das suas vitórias e que boa parte da rapaziada do cinema também fazia do oh! madrid a sua segunda casa. numa cidade que ganhou grande projecção à conta da sua movida, não deixa de ser sintomático que uma das casa mais emblemáticas acabe por fechar.

da última vez que estive em madrid acabei por não passar por lá, pois andámos por outros clássicos que quisemos reviver. madrid sempre teve a atracção dos museus, da gastronomia e da festa. fosse a brava, a dos touros, a da noite ou até a das compras – que ia das roupas em feiras emblemáticas, até compras culturais.

como há uns tempos morreram várias pessoas numa festa onde estavam muito mais pessoas do que seria de esperar, parece que as restrições da câmara local começaram a ser muito mais rígidas e os jornais espanhóis dizem que foi essa uma das razões para o insucesso da oh! madrid. é possível que sim, apesar de a segunda razão apontada ser a da crise. será então que a classe média/alta está a ser assim tão afectada? será que o encerramento da discoteca é um prenúncio da debilidade da economia do país vizinho? ou apenas a discoteca passou de moda?

independentemente das razões, o facto é que madrid ficou mais pobre. mais pobre porque tem menos oferta e, consequentemente, menos sonho. a noite vive dessa magia e as casas que não conseguem captar um público jovem e menos endinheirado e acabam por tornar-se chatas e enfadonhas. os ricos e entradotes precisam dessa energia que lhes é passada pelos mais novos que gostam de se divertir – tendo, obviamente, algum, pouco, dinheiro para o fazer.

vem também esta conversa para concluir que lisboa pode, aos poucos, assumir o papel que já pertenceu a madrid, até porque está cada vez com mais pujança, no que diz respeito aos estrangeiros. acredito que a capital portuguesa se vá tornar na verdadeira movida ibérica.

vitor.rainho@sol.pt