conto extenso ou novela curta, billy budd nasce de um complexo manuscrito de 351 folhas. súmula da temática e estética de melville, transparece serenidade, apesar de ter sido escrito por um septuagenário com certeza em sofrimento pelo insucesso da sua carreira literária, pela morte de hawthorne (amizade ou paixão maior) e pela perda dramática de dois filhos. o escritor toma por cenário a marinha britânica no ano de 1797, o do grande motim a bordo do navio nore. e, como defendeu john updike: “sempre que melville se aventurou a subir a bordo, o leitor sente o deck debaixo dos pés”.
billy budd tem um enredo passível de múltiplas interpretações. narra como, incapaz de falar tal é a repulsa por ele o ter indevidamente acusado de amotinação, billy budd, o belo gajeiro (alistado à força) mata com um golpe de navalha o mestre-de-armas john claggart e é depois julgado de forma sumária e enforcado no mastro principal do navio de guerra bellipotent.
à beleza e delicadeza de budd (cuja mudez indignada é sinal de pureza moral) contrapõe-se a maldade invejosa (e eventual frustração homoerótica) de claggart. entre os dois, está o capitão vere, figura que passa de paternal a implacável “disciplinador militar”, capaz de sacrificar até mesmo quem ele crê ter agido como mero “anjo de deus”. budd proferirá sem tremor as suas últimas palavras: “deus abençoe o capitão vere!” também sem qualquer tremor e iluminado pela alvorada, o seu corpo fica suspenso da corda, numa das imagens mais belas e simbólicas da história da literatura americana.