Faltam 10 mil milhões para sair ‘à irlandesa’

Analistas acreditam que meta irlandesa “é credível”. Três a quatro emissões de dívida de longo prazo até Junho asseguram um ano de financiamento a Portugal no pós-troika, ou seja, a duração de um cautelar.

portugal precisa de emitir 10 mil milhões de euros em dívida de longo prazo até junho se quiser fazer uma saída ‘à irlandesa’ e evitar um programa cautelar.

a verba, equivalente a três ou quatro emissões de dívida com prazos de 5 ou 10 anos nos próximos cinco meses, é considerada “credível” e “uma possibilidade” por analistas contactados pelo sol (banco best, xtb e dif broker). e criaria uma ‘almofada financeira’ que cobre as necessidades de financiamento do estado este ano e metade de 2015.

tal estratégia seria a cópia da usada pela irlanda, que ‘guardou’ 25 mil milhões de euros antes da saída da troika, no final de 2013, o suficiente para o país viver um ano e meio cumprindo as suas obrigações financeiras e evitar ter de ir aos mercados caso surja uma nova crise. na prática, dublin não fez mais do que criar o seu programa cautelar.

contactado pelo sol, o igcp, que gere a dívida pública portuguesa, não se comprometeu com uma saída ‘à irlandesa’ no campo do financiamento. referiu apenas que, ao longo deste ano, pretende emitir até 13 mil milhões de euros em dívida de longo prazo (3,25 mil milhões dos quais emitidos há duas semanas).

os analistas acreditam, porém, que a estratégia da agência liderada por moreira rato é financiar-se o máximo enquanto os ventos no mercado são positivos. “quanto mais portugal se financiar agora, mais criterioso o igcp pode ser no futuro sem a pressão do momento”, diz ulisses pereira, analista da dif broker. “caso as condições de mercado se mantenham ou melhorem, parece ser um objectivo credível”, adianta diogo serras lopes, director de investimentos do banco best.

estes dez mil milhões de euros conseguidos através das emissões de longo prazo seriam a maior fatia da almofada financeira que portugal conseguiria para criar o seu próprio cautelar.

mas não só. o igcp diz que espera arrecadar este ano mais dois mil milhões de euros em produtos de retalho (venda de dívida portuguesa a particulares), o que elevaria o montante para 12 mil milhões de euros – um valor que assegura o pagamento do resto das necessidades de financiamento deste ano que falta cobrir (3,75 mil milhões de euros) e mais de metade das necessárias para 2015 (16 mil milhões de euros).

luis.goncalves@sol.pt