CDS evita divergir de PSD

“O CDS nunca será igual ao PSD”. A discussão sobre as diferenças ideológicas entre os dois partidos, unidos numa coligação de Governo, resumiu-se basicamente a esta frase, dita por Paulo Portas no início do Congresso do CDS, no último fim-de-semana, em Oliveira do Bairro.

na verdade, o que aconteceu foi que se cumpriu a vontade do líder. “depois de vários momentos complexos de tensão, o momento não era o de afirmar diferenças mas de afirmar a coesão”, justificou ao sol o novo presidente da mesa do conselho nacional, telmo correia. “a preocupação era que a coesão da maioria não fosse beliscada neste congresso”. e não foi.

tradicionalmente mais doutrinário do que o psd, o cds mostrou-se um partido mais pragmático – ou “mais situacionista”, na descrição feita ao sol esta semana por outro dirigente. o objectivo era mostrar que os centristas estão determinados a terminar, ao lado do psd, o programa de assistência financeira em maio. e também que as medidas impopulares (ou mesmo contrárias às promessas feitas) não foram a primeira escolha do cds, mas antes o que foi possível fazer “entre o mau e o péssimo” – como o aumento de impostos, os cortes de pensões e até a demissão irrevogável de portas (que este justificou com um “o que tinha que ser tinha muita força” para forçar passos a fazer a remodelação).

filipe lobo d’ ávila, o novo porta-voz do cds anunciado em pleno congresso, reconhece ao sol que “mais importante do que sublinhar diferenças entre psd e cds é sublinhar a convergência que existe entre os dois partidos para tirar portugal do programa de assistência e pensar no caminho do dia seguinte”.

mas há diferenças? hélder amaral, que entrou para a comissão executiva (o núcleo duro de portas), enumera algumas: o cds é mais solidarista, é “euro-atento” em vez de federalista e pode fazer mais facilmente do que o psd reformas como a dos municípios (por não ter uma rede densa de autarcas). isto, apesar de um dos principais pecados apontados a portas pelos seus críticos ser o de não ter tido ímpeto reformista e ter travado as mudanças. no governo, as guerras do cds são conhecidas: a oposição à tsu dos pensionistas e à privatização da rtp, o aumento do salário mínimo.

bagão félix, próximo do cds e ex-ministro de governos psd-cds, resumia em entrevista ao sol, há semanas, que o psd era “mais pragmático” e o cds “mais personalista”. neste congresso, o lado pragmático dos centristas vingou talvez porque o partido esteja a lutar por passar de partido pequeno a médio.

por sinal, uma das decisões da nova direcção foi a de criar um gabinete de estudos. “é a resposta ao pós-troika: olhar para o país e ver o que se quer”, explica hélder amaral.

críticos valem 17%

no congresso do cds, portas enfrentou, pela primeira vez, oposição interna. filipe anacoreta correia, do movimento alternativa e responsabilidade, apresentou uma moção de estratégia global alternativa à do líder e obteve 16,6% dos votos. nas listas para o conselho nacional (o parlamento do partido), as duas listas não afectas a portas conseguiram também cerca de 17% dos votos.

“não ter medo de perder prepara-nos para grandes vitórias”, afirmava no sábado à noite anacoreta correia, tendo ao seu lado o ex-vice-presidente de portas, luís nobre guedes (que protagonizou um dos momentos do congresso, ao criticar o seu amigo paulo portas). com este avanço, anacoreta perfila-se como candidato novamente daqui a dois anos – já com a vantagem da rodagem entretanto feita.

helena.pereira@sol.pt