em 2010 garantiu a christian bale o globo de ouro e o óscar de melhor actor secundário, e em 2012 fez o mesmo por jennifer lawrence, com a jovem revelação a conquistar tanto o globo de ouro como o óscar na categoria de melhor actriz. com golpada americana o feito parece estar prestes a repetir-se.
o filme chega à cerimónia dos óscares de 2 de março com dez nomeações, estando christian bale, amy adams, bradley cooper e jennifer lawrence indicados para todas as categorias de melhores actores. e é mesmo esse o grande trunfo de golpada americana: o elenco de luxo e as excelentes prestações de, especialmente, amy adams e jennifer lawrence (as duas actrizes já conquistaram, há duas semanas, os globos, respectivamente, de melhor actriz e melhor actriz secundária).
baseado numa operação desenvolvida pelo fbi, no final da década de 1970, que começou como uma investigação relacionada com o roubo e tráfico de obras de arte falsificadas e terminou com a descoberta de um caso de corrupção política que envolveu vários senadores e congressistas americanos, david o. russell reinventa, com muita liberdade e exagero, a história de melvin weinberg (aqui baptizado como irving rosenfeld), um vigarista sedutor que ficou célebre nos eua durante a década de 1970 e que ajudou as autoridades a desvendar esta rede de tráfico de influências.
mas este enredo só serve de desculpa para um filme que é tanto sobre os excessos que marcaram a américa nesta época pós-vietname e escândalo watergate, como, em jeito de comédia negra de costumes, sobre gente que tem de se reinventar – física e psicologicamente – para sobreviver. movidas sempre por uma enorme ambição, todas as personagens (há uma excepção, mas não possui a carga suficiente para funcionar como consciência colectiva), sejam políticos, agentes do fbi ou cidadãos comuns, possuem um desejo de ascensão rápida, mesmo que tenham de recorrer a vários golpes ilegais. essas parecem ser as únicas regras de um jogo viciado, num mundo onde os anti-heróis acabam por vencer.
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sem grandes malabarismos ao nível da realização, é o trabalho dos actores que mantém o espectador entretido, com destaque para as interpretações femininas.
enquanto para jennifer lawrence, que interpreta a mulher insegura de irving, parece tudo fácil e natural, a entrega de amy adams, que faz de amante e parceira de crime do protagonista, é notável. inteligente e sedutora, adams recria com distinção a ambiguidade de se ser uma mulher intensa e combativa, mas igualmente frágil e, em certa medida, carente, naquele que é provavelmente o melhor papel até à data da sua carreira.
destaque ainda para a pequena participação de robert de niro, a lembrar quão memorável pode ser quando sabem retirar o que de melhor há em si.