a pressão de países como alemanha, finlândia e holanda para uma saída ‘limpa’ de portugal é uma hipótese cada vez mais forte em bruxelas, adiantaram duas fontes ao sol.
o pedido do governo português para adiar a discussão do modo de saída do programa da troika para finais de abril (janeiro era a primeira data disponível) atira a decisão para o centro da campanha das eleições europeias. e estas estão já a ser marcadas pelo crescente eurocepticismo nos países do norte e pela subida das forças nacionalistas na periferia (grécia, frança, itália, espanha).
lisboa justificou este adiamento salientando que um acordo final sobre o cautelar agora ficaria em risco caso as condições económicas e o sentimento dos mercados (actualmente positivos) se invertesse nos próximos meses. o governo adiantou ainda que portugal precisa de fazer novas emissões de dívida de longo prazo para provar a sua ‘independência’ nos mercados e ter as contas de 2013 fechadas. a esta lista, diz uma das fontes contactadas pelo sol, acrescenta-se ainda o desejo do executivo de apresentar o documento de estratégia orçamental (deo) aos restantes líderes europeus em abril, pronto e com o ‘carimbo’ do ps, provando que haverá consenso político na condução das contas públicas até 2018.
para já, existe a convicção de que alemanha, holanda e finlândia vão fazer tudo para que o tema “ mais dinheiro a portugal” não entre nas suas campanhas domésticas para as europeias.
a chanceler alemã, angela merkel, pretende evitar que novo apoio a um estado intervencionado – que seria um revés face ao ‘sucesso’ irlandês – seja um factor-extra de pressão sobre a sua recente coligação, que irá a votos pela primeira vez. na holanda, o governo de haia debate-se com uma economia em recessão, crise imobiliária e contestações contra a austeridade. por fim, a finlândia tem um historial na actual crise, em que esteve sempre contra ajudas adicionais a estados-membros. logo após o pedido de resgate português, em abril de 2011, o país, então em eleições, ameaçou vetar o programa.
mas não é só pelo plano político que esta troika do norte poderá levar a uma saída ‘limpa’ de portugal. com a decisão do cautelar marcada para final de abril e o fim do memorando a 17 de maio, sobram poucos dias para fazer passar um eventual programa cautelar português nos parlamentos destes três estados (os únicos que exigem uma aprovação nas suas câmaras).
o governo não se compromete, mas assume o cenário. o ministro da economia, pires de lima, reiterou essa ideia em davos (suíça), esta semana, lembrando ser uma hipótese caso o crescimento económico se mantenha. a estratégia parece ser ‘navegar à vista’ – uma expressão várias vezes usada pelo governador do banco de portugal, carlos costa – e ir adaptando as decisões face à evolução da economia.
do lado da troika, o discurso é de cautela. olli rehn, comissário europeu para os assuntos económicos e financeiros disse esta semana que “ainda é cedo” para decisões sobre a saída de portugal e christine lagarde, directora do fmi, salientou que a retoma será “moderada”. já a ocde mostrou-se “positivamente surpreendida” com portugal e admite uma saída da troika sem programa cautelar.