BCE com teste ‘light’ à banca

Sem uma definição única para avaliar o malparado na Zona Euro, o Banco Central Europeu admite usar o método mais brando. Alemanha ameaça vetar o fundo de recapitalização.

é visto como o maior processo de integração desde o nascimento do euro, mas a união bancária está longe de ser pacífica. os problemas surgiram logo num dos pilares que parecia mais sólido: a supervisão dos 130 maiores bancos da zona euro pelo banco central europeu (bce).

antes de assumir este posto, no final de 2014, a instituição liderada por mario draghi quer saber qual a saúde financeira dos bancos através de um ‘teste de qualidade’ às contas. o processo é conhecido como asset quality review e irá avaliar o crédito malparado, a dívida pública de risco e os activos tóxicos.

esta radiografia tentará mostrar o verdadeiro ‘buraco’ na banca europeia, cujas estimativas são tão divergentes que ninguém sabe ao certo a dimensão. o crédit suisse aponta para 50 mil milhões de euros, a s&p para 95 mil milhões e a pricewaterhousecoopers indica 280 mil milhões.

a mais recente previsão, feita por dois académicos das universidades de berlim e nova iorque, aponta para necessidades de 767 mil milhões.

um dos principais problemas assumidos pelo bce, num documento interno a que a bloomberg teve acesso, é a forma de avaliar o crédito malparado nos bancos. como não existe uma definição única e harmonizada entre os estados-membros, frankfurt admite usar uma versão mais ‘branda’ do crédito em incumprimento, o que poderá ameaçar a credibilidade do teste e deixar passar vários bancos em dificuldades. na grécia, o malparado atinge 21% do crédito total e na finlândia apenas 1%, apesar de as famílias finlandesas serem hoje das mais endividadas na europa.

impasse na união bancária

até final do mês serão publicados os critérios a usar nos testes de qualidade, que irão ser feitos em abril ou maio. segue-se uma ronda de testes de stress em outubro – este exercício vai confrontar as instituições com cenários de novas crises, antes de o bce assumir a supervisão dos maiores bancos europeus, oito dos quais portugueses.

a acontecer, este será o primeiro pilar da união bancária. mas se neste já existem problemas, no segundo pilar o cenário não é diferente. esta semana, o ministro das finanças alemão, wolfgang schäuble, ameaçou vetar o novo mecanismo de resolução bancária se o parlamento europeu (pe) alterar o que foi acordado pelo conselho europeu em dezembro – o pe não participou nas negociações deste mecanismo, que determina as regras de salvação de bancos.

luis.goncalves@sol.pt