Ajuda do BCE penaliza banca

A banca portuguesa continua a ser das mais dependentes do Banco Central Europeu (BCE). E nem a ameaça que os próximos testes de stress podem penalizar as instituições mais expostas ao dinheiro de Frankfurt deverá fazer com que as instituições nacionais reduzam a sua posição.

A falta de alternativa no mercado face aos juros concedidos pelo banco central (1%), a par da crença de que o BCE vai fazer tudo para não ter problemas em ano de União Bancária, sustenta a atitude da banca, dizem analistas contactados pelo SOL.

Os bancos nacionais receberam cerca de 50 mil milhões de euros do BCE desde 2011, tendo apenas devolvido cinco mil milhões de euros até hoje – 12% do total, a taxa de reembolso mais baixa na Zona Euro. Os 44 mil milhões que ainda estão nos balanços representam 9% dos activos, face aos 8% de Itália, aos 6% de Espanha e aos 4% da Irlanda, segundo a consultora Tortus Capital.

A quase totalidade da verba foi conseguida nos dois ‘leilões’ de empréstimos lançados pelo BCE no final de 2011, para evitar o colapso do euro, numa operação conhecida como LTRO.

Os empréstimos têm sido devolvidos pela banca europeia à medida que a crise do euro desanuviou, mas em Portugal o dinheiro manteve-se, por falta de alternativas. “Não há hoje no mercado um financiamento mais barato do que os LTRO, logo é natural que os mantenham”, diz ao SOL Filipe Garcia, da corretora IMF.

Um dos grandes riscos são os testes de stress a que a banca será sujeita este ano. Apesar de as regras ainda não estarem definidas, há cada vez mais rumores de que Autoridade Bancária Europeia poderá penalizar as instituições mais expostas ao dinheiro de Frankfurt – sinal de menor independência e maior debilidade. “Em termos técnicos essa penalização faz sentido. Em termos políticos é mais difícil e penso que o BCE não vai querer arranjar novos problemas na Zona Euro”, diz Paulo Pinho, docente da Universidade Nova de Lisboa e especialista em banca.

Entre o final deste ano e o início de 2015, a banca nacional terá de pagar os 44 mil milhões de euros ao BCE, mas os analistas acreditam que o banco central poderá prolongar o prazo da linha ou arranjar alternativas que evitem novas crises. Os dois especialistas acreditam que o sector bancário irá pressionar o Governo a pedir um programa cautelar, para assegurar estabilidade de juros do país, e uma linha de crédito disponível em caso de turbulência. Uma saída limpa implica exposição aos ‘humores’ do mercado. Já um segundo resgate ou uma restruturação da dívida pública, na qual os bancos têm investido muito nos últimos meses, significariam fortes prejuízos.

luis.goncalves@sol.pt