Esta trajectória foi construída tanto por essas referências da década de 1960, como por inspirações mais actuais de uns Tame Impala ou Toy. Mas há uma urgência ainda mais evidente em Pesar o Sol: “A procura de uma possível identidade, mas que nunca é fixa”, arrisca Tomás Wallenstein, voz e guitarra da formação. E, arriscamos nós, há aqui também a necessidade espontânea de vincar um cunho identitário português, mesmo que os alicerces estejam contaminados por influências anglo-saxónicas.
“Assumir a naturalidade” no acto criativo, dizem quase em coro os cinco músicos – além de Tomás, Salvador Seabra (bateria), Domingos Coimbra (baixo), Manuel Palha (guitarra) e Francisco Ferreira (teclas) -, é o desejo maior. Isso faz-se com a vida do dia-a-dia, as conversas de café, as despedidas aos amigos que partem para o estrangeiro à procura de um futuro profissional… E isso tudo é português. Por isso, em ‘Lameira’, Tomás solta “quando o país rebentar eu vou estar cá para ver”. “Ouvimos constantemente que isto vai acabar, mas chegamos sempre à conclusão que Portugal é o melhor país do mundo. Nós vivemos muito esse sentimento de Portugal porque estamos a fazer escolhas muito nossas, a cantar na nossa língua e a trabalhar para conseguirmos fazer cá o que queremos. Podem dizer o que quiserem, mas nós vamos morrer em casa. Isto aqui é o que nós somos”, sublinha o vocalista, revelando um amadurecimento pessoal que transfere com a tal naturalidade para a música que faz.
Fim aos ‘lá lá lás’
Ouvindo Gazela e agora este Pesar o Sol nem era preciso falar com os jovens músicos (têm entre 22 e 24 anos) para constatar a maturidade que agora demonstram. Está nas novas letras que cantam e nas melodias que criaram. As canções são agora mais compridas, com mudanças rítmicas frequentes e os refrões certeiros do primeiro registo são esquecidos. “É mais os ‘lá lá lás’ que desaparecem, mas sim, no Gazela havia um claro clímax quando se chegava ao refrão. Neste a música é mais repartida, alongada, distendida”, comenta Manuel, com Domingos a completar que a sonoridade mais “viajante e relaxada” talvez se deva ao isolamento auto-infligido na hora da composição.
Para não se comprometer com as rotinas de Lisboa, a banda fechou-se numa casa em Paredes de Coura e só saiu de lá com a parte instrumental terminada. “Como não tínhamos pressões e fazíamos o que queríamos, tanto podíamos ficar até às tantas da manhã como ir dormir cedo porque estávamos cansados. Isso originou um sentimento comum que se ouve no disco”, diz o baixista.
A par desta descontracção conquistada pela distância, a experiência que acumularam a tocar ao vivo também determinou Pesar o Sol. Na hora de gravar os dez temas do registo, em vez do conforto do estúdio, os Capitão Fausto elegeram uma adega para o efeito. “Estamos habituados a tocar juntos num palco e a que haja muito barulho à nossa volta. Queríamos captar isso, essa experiência de estarmos todos a tocar numa sala grande, mais viva”, explica Manuel.
Quando Pesar o Sol ficou pronto, começaram a ouvir os clichés associados ao segundo disco, nomeadamente as pressões que uma banda aplaudida na estreia sofre. Mas isso passou-lhes ao lado. O disco estava gravado e pronto a ser defendido em público. A primeira prova é já hoje, no Lux, em Lisboa, e a segunda a 22, no Hard Club, no Porto. Depois da estreia promissora com Gazela, Pesar o Sol eleva os Capitão Fausto para um patamar superior. Prontos para iniciar a fase adulta? “Isso ainda está longe”, brinca Tomás e remata: “Nós ainda estamos na pré-adolescência!”.