Praxes, Miró e mentiras

Quase todas as semanas o país encontra um tema que apaixona a opinião pública, mesmo quando esta, na sua maioria, não sabe o que se está a discutir. O problema das praxes é bem um dos exemplos, já que muitos dos agora detractores das ditas nunca se revoltaram contra as barbaridades cometidas em programas televisivos,…

Poder-se-á dizer que num caso como no outro, concorrentes televisivos e estudantes aceitam as ditas praxes de livre vontade e, sendo maiores de idade, ninguém pode fazer nada… O que não é verdade. A sociedade civil deve lutar sempre por defender valores que dignifiquem o ser humano e apostar em desmascarar tudo o que atente contra os princípios mais nobres de convivência. E não é preciso andar à procura das praxes mais secretas, basta ligar a televisão.

Como já aqui escrevi algumas vezes ao longo dos últimos sete anos, sempre abominei as praxes e faz-me confusão perceber como as pessoas aceitam tão ‘livremente’ serem humilhadas e tratadas como objectos. Calculo que, na sua vida pessoal, algumas deverão seguir tais ensinamentos…

Parece-me, no entanto, que a proibição não levará a lado algum. Uma coisa é proibi-las dentro das universidades, outra é andarem polícias de costumes a arrombar casas para saber o que se passa lá dentro…

Mas, voltando ao início desta crónica, o que dizer da polémica mais recente e que envolve os quadros de Miró que estavam na posse do BPN e seriam leiloados esta semana na Christie’s, em Londres?

As obras faziam parte do espólio do banco há cerca de 10 anos. Desde que rebentou o escândalo que o Governo tenta arranjar formas de ‘pagar’ os devaneios dos responsáveis que levaram a instituição ao descalabro.

Será então inconcebível que o Governo tente vender um dos activos do banco para tapar o ‘buraco’? Ou deveria o Executivo ficar com as obras e criar um museu para as mostrar ao grande público, cativando também dessa forma turistas? A maioria dos portugueses não faz ideia do que está em discussão, mas gosta de se colar a uma das partes. Eu gostava era que o Governo conseguisse criar condições para que as gerações futuras possam viver a sua vida sem que ela esteja hipotecada. E que, nessa altura, façam os museus que puderem e entenderem.

vitor.rainho@sol.pt