Cautelar dá segurança, sair à irlandesa dá votos

No final do programa da troika, haverá sempre um programa cautelar. A diferença é saber se este é pago por Bruxelas (um cautelar oficial) ou se pelo Estado através uma ‘almofada financeira’ como fez a Irlanda.

Porém, a escolha entre um cautelar ou saída limpa não é só financeira. Um cautelar oferece juros mais baixos (3,1%contra uma média de 5% a que Portugal se tem financiado), uma linha de crédito segura e um controlo mais apertado das finanças públicas. Por outro lado, esta opção mantém Portugal com o estigma de país sob resgate, com visitas regulares dos credores, uma imagem que poderá atrasar a subida de ratings e a descida dos juros da dívida pública.

A incógnita sobre as condições de austeridade exigidas num cautelar é um factor de incerteza e que tira margem política e económica ao Governo. Um programa deste género é apoiado pela banca portuguesa e pela Comissão Europeia, mas tem a resistência dos países do Norte da Europa, que não vêem com bons olhos dar mais dinheiro a um país do Sul, sobretudo com as eleições europeias à porta.

Optimismo sobe na Irlanda

Já a saída limpa atribui uma imagem de independência financeira a Portugal e um valioso trunfo político ao Executivo. Porém, obriga o Estado a criar uma almofada financeira entre 17 e 20 mil milhões de euros que, só em juros, poderá custar 850 milhões de euros por ano (média para um juro de 4,5%).

Um programa cautelar de Bruxelas de 17 mil milhões de euros (o valor máximo) representa encargos de 500 milhões de euros em juros. Actualmente, a almofada do Estado totaliza 14 mil milhões de euros (7,9 mil milhões em depósitos do Tesouro mais 6,2 mil milhões das duas emissões de dívida feitas este ano).

O Governo tem mantido a porta aberta a uma saída limpa, seguindo a estratégia de se colar à Irlanda. Dois meses após de ter deixado a troika, o ex-tigre celta vive um optimismo crescente e o primeiro-ministro, Enda Kenny, já anunciou que vai recandidatar-se em 2015 depois de ter “limpo a trapalhada” que herdou do anterior governo.

Os juros da dívida irlandesa desceram esta semana a mínimos de 2005 (3,1%) e o país já se financia a taxas semelhantes às oferecidas pela troika (3,4% na última última emissão de dívida a 10 anos). Em Janeiro, a Moody´s subiu o rating da Irlanda (S&P e Fitch já o tinham feito) e o investimento privado está igualmente em alta. A gigante Yahoo anunciou este mês que vai mudar a sua sede europeia de Genebra para Dublin e juntar-se ao Facebook, Intel, Google ou Pfizer, gigantes que escolheram a Irlanda para instalar as suas maiores operações fora dos EUA.

luis.goncalves@sol.pt