Uma História de Amor (Her), com Joaquin Phoenix, Amy Adams e Scarlett Johansson
Fábula hipster sobre a paixão nos tempos modernos, Uma História de Amor de Spike Jonze dá primazia ao diálogo num filme marcado por magníficas interpretações.
É um mundo organizado, limpo, asséptico e estéril este que é apresentado em Uma História de Amor, o novo filme de Spike Jonze, protagonizado pelo sempre excelente Joaquin Phoenix. A acção decorre num futuro próximo, numa Los Angeles que é mais uma mistura de Xangai comNova Iorque (onde, de resto, o filme foi rodado) com espírito nórdico: ordenada, sem lixo, carros barulhentos, veículos voadores ou as restantes criações habitualmente associadas ao futuro.
Esta é, como o título indica, uma história de amor.Mas uma história de amor dos tempos modernos. Theodore (Joaquin Phoenix) é um homem divorciado e solitário, que ganha a vida a escrever cartas de amor para outros, e que, incapaz de esquecer a sua ex-mulher, decide adquirir a mais recente inovação tecnológica do mercado, um sistema operativo com inteligência artificial. Quando o liga surge uma voz rouca, quente e sexy (notável interpretação de ScarlettJohansson), acabada de nascer. E que decide baptizar-se Samantha.
É ao crescer desta improvável relação a que se vai assistir ao longo do filme, em paralelo com a de Theodore com a da sua ex-mulher, Catherine (Rooney Mara), e do desmoronar do casamento da sua amiga Amy (Amy Adams). Mas esta é também uma viagem iniciática: a de Samantha que, pouco a pouco, vai tomando consciência de si, dos outros, e do mundo.
Escrito e realizado por Spike Jonze, Uma História de Amor, a estreia do realizador na escrita de argumentos (adaptou, comDave Eggers, O Sítio das Coisas Selvagens, e antes trabalhou com Charlie Kaufman em Queres Ser John Malkovich? e Inadaptado) já venceu o Globo de Ouro paraMelhor Argumento.E está nomeado para cinco categorias nos Óscares, entre elas a de Melhor Filme e a de Melhor Argumento Original, mas tendo Joaquin Phoenix ficado de fora da corrida para o de Melhor Actor, naquela que é uma das grande interpretações da sua carreira.
Se não se têm estreado, nos últimos meses, muitas comédias românticas, Uma História de Amor vem preencher a lacuna.E que bem que o faz: não cai nos estereótipos do género, não faz qualquer apelo à pipoca, ao riso ou à lágrima fácil, não promete desde o início um final feliz depois de muitas provações sofridas pelos protagonistas, nem tem um beijo final num por demais visto cenário romântico, como uma fonte num parque ao entardecer.
Fábula hipster (o filme, e todos os seus intervenientes, não poderiam ser mais cool), este não deixa de ser um apelo a que deixemos um pouco de lado os telemóveis a favor das relações humanas.Mas vai muito além disso. Esta é uma relação (e um filme) construída a partir do diálogo. E se, no mesmo registo, Antes doAmanhecer marcou uma geração, Uma História de Amor poderá, muito bem, marcar a próxima.
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A Estrada da Revolução, realizado por Dânia Lucas com base na escrita do jornalista Tiago Carrasco, com a voz de Ivo Canelas
Dez mil quilómetros percorridos em quatro meses, um blogue, crónicas no SOL, um livro, 200 horas de vídeo, e agora um documentário. É este o historial telegráfico de A Estrada da Revolução, vivido no terreno por Tiago Carrasco (jornalista), João Fontes (repórter de imagem) e João Rodrigues (fotógrafo), transformado em filme pela documentarista Dânia Lucas, e com a voz do actor Ivo Canelas. Não há como apoucar a relevância e o sentido de oportunidade da aventura destes portugueses que, da Turquia a Marrocos, foram ouvir as gentes em revolta. E nunca é demais recordar as dificuldades e os perigos por que passaram.
Já o documentário em si, ou a forma como foi montado, tem que se lhe diga. Começa como uma reportagem da frente de guerra, numa aldeia síria que chora as mortes de jovens atacadas pelo Exército enquanto apanhavam batatas. Imagens fortes, de desespero e raiva. É o momento mais tenso, mas depois somos atirados para o início da viagem, numa estação ferroviária na Turquia – e o filme continua em anticlímax. Se é propositado que aqui não estejam os protagonistas da chamada Primavera Árabe, mas os anónimos da praça Tahrir ou as mães dos chamados mártires, se é opção não apresentar uma ordem cronológica, há momentos em que quem não saiba do tema fica na mesma, caso das imagens da Cisjordânia. Há, em contrapartida, momentos de enorme interesse, seja ao conhecer um líbio, voluntário num memorial dos mártires de Bengazi, seja ao ouvir um homem que trocou Gizé pela praça Tahrir pós-revolução. Sendo interessante, aguarda-se que a edição para TV flua melhor.
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Um Segredo do Passado, de Jason Reitman, com Kate Winslet e Josh Brolin
Ao seu quarto filme JasonReitman perdeu o pé e deixou-se levar pela paixão ficando como todos os apaixonados: lamechas. Interpretado por Kate Winslet e JoshBrolin,UmSegredo do Passado decorre num fim-de-semana do trabalhador (que nos EUA se assinala no início de Setembro). Adele é uma mãe divorciada que sofre de depressão e de um medo terrível de sair de casa. É numa das suas raras idas ao supermercado que conhece um homem que acaba de fugir da prisão, acabando por o levar para o seu lar. Ali fechados – ela porque não consegue sair, ele porque não pode – ao longo de um quente fim-de-semana festivo, a paixão surge e aquelas quatro paredes tornam-se, ao mesmo tempo, o espaço de prisão e de liberdade daquele casal improvável, que arrasta consigo, cada um à sua maneira, o peso do seu passado.
O filme tinha tudo para ser bom.Excelentes actores, uma boa premissa, um óptimo realizador.Mas algo falha.A secura e humor a que Reitman habituou os espectadores em filmes como Obrigado por Fumar e Juno desapareceram para dar lugar a frases de amor.O que não seria necessariamente mau se não fosse o exagero. E o que poderia ser descrito como onírico torna-se apenas sentimentalismo e erotismo barato. Com vários paralelos entre comida e sexo, o culminar de UmSegredo doPassado está numa tarte de pêssegos feita a três, momento carregado de tensão, erotizado e sensual, mas que acaba por ser visto com um certo desconforto.
O resultado é triste: num filme que pretende ser motor de lágrimas sem fim elas nunca chegam a rolar.
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