Histerismo à portuguesa

O período que vivemos é fértil em discussões acaloradas e todos os dias aparece algo de novo que consegue animar o burgo. O mau tempo? ‘O Governo é que é o culpado por não ter feito um acordo com S. Pedro!’ O Estádio da Luz tem problemas na cobertura? ‘Malandros, incompetentes, é inaceitável.’ Mas então…

Brevemente começará o sorteio das facturas que premiará todas as semanas um feliz facturado. ‘O quê? Mas agora os contribuintes é que têm de fazer o trabalho do Governo? Somos nós que vamos fomentar o fim da fuga aos impostos? Malandros…’ Mas olha que eles vão oferecer um carro a quem pediu factura na compra de alguma coisa, e nem é preciso concorrer. ‘O quê? É evidente que aqueles que fazem mais compras terão possibilidades maiores de serem os felizes contemplados! Os mais ricos são sempre os mais beneficiados…’

António Capucho vai ser expulso do PSD… ‘Inaceitável, como é possível?’ Então mas agora preocupas-te com o que se passa nos outros partidos? E ele não concorreu contra o seu próprio partido? Fará algum sentido continuar a vestir aquela camisola? ‘Não interessa, são uns sacanas anti-democráticos.’ Vítor Gaspar confessou que saiu do Governo por causa de Paulo Portas… ‘Não percebes que esse Portas é um político que não olha a meios para se perpetuar no Poder?’ Ai sim? Mas tu não odiavas o Vítor Gaspar? ‘Não interessa…’ Os quadros do Miró não vão ajudar a tapar um pouco o buraco do BPN? ‘Estás doido? Isso é uma gota no meio do oceano. Ao menos que fiquemos com alguma coisa resultante da vigarice dos Oliveiras e Costas e afins…’

Estas foram algumas das conversas a que assisti na televisão, net ou jornais. As pessoas discutem com um fervor clubístico como não há memória, e olham para todos os acontecimentos da sociedade de uma forma partidária. Do mau tempo aos quadros de Miró tudo serve para dividir entre esquerda e direita. Mas o mundo agora só pode ser olhado nessas perspectivas? Qual é a diferença para os talibãs? É assim tanta? Não me parece… Assistimos a um extremar de posições que, num futuro próximo, acharemos ridículo…

P.S. Nesta edição mostramos um belo exemplo do que corre bem neste país. Independentemente dos governos, o mundo do calçado é uma mais-valia. Assim apareçam outros exemplos. Que até podem ser os famosos pastéis de Belém!

vitor.rainho@sol.pt