Passos Coelho quer proteger o seu cabeça-de-lista, Paulo Rangel, cujo nome não será já anunciado, mas que desperta alguns anticorpos no partido. A direcção do PSD aprovou esta semana um documento com as linhas gerais da política europeia, intitulado «A União Europeia, Portugal e o Futuro», que foi elaborado por deputados e eurodeputados, incluindo Paulo Rangel.
Oficialmente, a justificação para não se falar do cabeça-de-lista é a de que Passos receberá novo mandato no Congresso para tratar da lista que será conjunta com o CDS e que, portanto, ainda terá que ser negociada. Mas a escolha do número um do PSD já está feita há muito tempo, mais precisamente depois de uma conversa entre os dois protagonistas, Passos e Rangel, no início de Dezembro, tal como o SOL noticiou.
A ratificação do seu nome pelo Conselho Nacional, bem como da restante lista, deverá ser rápida, uma vez que o PSD quer que o seu cabeça-de-lista já seja conhecido quando ocorrer o Congresso do Partido Popular Europeu, marcado para 6 e 7 de Março.
Rangel, que não faltará ao Congresso, foi um dos defensores da lei de limitação de mandatos aplicada a todos os autarcas com mais de três mandatos. Foi, por isso, acusado pelo apoiantes de Luís Filipe Menezes de ter contribuído para a sua derrota no Porto. E alguns delegados do Norte ameaçam trazer este assunto à discussão no palco do Congresso.
‘Um novo ciclo’
Passos Coelho, que desta vez começou a trabalhar nos preparativos para o Congresso mais cedo do que há dois anos, quer pôr a tónica no caminho do crescimento do país e no regresso à ideologia e ao património do partido.
O objectivo é, por um lado, ‘puxar’ pelo fim do resgate (a 17 de Maio) e pelos sinais de recuperação económica e, por outro lado, reposicionar o PSD (acusado de deriva neo-liberal) com vista às próximas eleições legislativas, em 2015.
«É o relançamento da mensagem de esperança e de um novo ciclo», sublinhou ao SOL um membro da Comissão Permanente do PSD.
O primeiro-ministro não tem, contudo, os principais rostos do Governo na política económica (Portas e Pires de Lima pertencem à ala CDS), sendo que, por isso, chamou Poiares Maduro para ajudar nesse discurso pela positiva. Os outros ministros a quem pediu que discursassem no Coliseu dos Recreios são Rui Machete, Miguel Macedo e Aguiar-Branco.
Com os mais críticos da direcção (Rui Rio, Manuela Ferreira Leite e Marcelo Rebelo de Sousa) ausentes do Congresso, a expectativa vai para o discurso de Nuno Morais Sarmento, ex-ministro de Durão Barroso, que foi eleito delegado.
Mudanças na direcção
Em termos de direcção, Passos Coelho deverá reforçar a sua equipa com José Matos Correia, barrosista, deputado e ex-chefe de gabinete de Barroso. O presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, pode ser chamado à comissão política.
Os lugares de vice-presidentes têm uma cadeira vazia: a de Manuel Rodrigues, que renunciou ao cargo quando foi para o Governo. Jorge Moreira da Silva deverá manter-se, sendo o único vice-presidente que é membro do Executivo.
Os outros vice-presidentes são Marco António Costa, Pedro Pinto, Teresa Leal Coelho e Nilza de Sena. Ao SOL, Leal Coelho afirmou que o PSD vai sair do Congresso «mais virado para o país». Nilza de Sena, por seu lado, explica que a sua continuidade na direcção do PSD «é da responsabilidade estrita» do presidente do partido.
O Congresso decorre na mesma sala onde o PSD se despediu do cavaquismo, em 1995, elegendo Fernando Nogueira, e onde Durão Barroso foi reeleito quatro meses depois de assumir a pasta de primeiro-ministro.
O futuro de Passos
Passos pretende que o partido saia deste congresso de alma lavada, mas a tarefa é difícil. A direcção conta com queixas dos militantes sobre os cortes na função pública e nas pensões e sobre o fecho de tribunais.
As moções ao Congresso, contudo, até são brandas nas críticas. Alinhadas com a direcção, reclamam sobretudo mais investimento nas regiões e dinheiro do QREN. As únicas críticas vêm dos autarcas – que pedem que o Governo cumpra os contratos de transferência de competências na Educação – e dos Trabalhadores Sociais-Democratas, que pedem o reforço da negociação colectiva.
Deverão ser, assim, três dias pacíficos para Passos que, no entanto, verá começar a ser traçado no Coliseu o seu futuro. Que tem uma data: 2015.