Guiné-Equatorial à beira de entrar na CPLP

A Guiné Equatorial está a um passo de se tornar o 9.º Estado-membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Ontem, os chefes da diplomacia da CPLP, reunidos em Maputo na XII Reunião do Conselho de Ministros da organização, deram um parecer favorável à adesão daquele país africano.

O encontro tinha vários temas na agenda, desde o acompanhamento da situação política na Guiné-Bissau à institucionalização da Reunião de Ministros da Energia da CPLP. Mas o ponto forte da reunião – que se prolongou até à noite – foi o processo de adesão da Guiné Equatorial.

Agapito Mba Mokuy, chefe da diplomacia daquele país, comunicou na reunião que, no dia 13 de Fevereiro, o Presidente Teodoro Obiang assinou a resolução 426, que suspende a pena de morte com efeitos imediatos.

Entre os itens a cumprir para uma adesão plena, Malabo teria de adoptar uma moratória para abolir a pena de morte e promover o ensino da língua portuguesa. Após o pedido de adesão, em 2010 – embora a Guiné Equatorial seja membro observador associado da CPLP desde 2006 -, tem sido Lisboa a apresentar entraves à admissão do país.

Com a declaração de Agapito Mba Mokuy, o caminho para a adesão plena ficou mais aberto. A CPLP mantém agora a expectativa de que Malabo concretize a abolição definitiva da pena capital.

Antes do encontro, o ministro dos Negócios Estrangeiros e de Cooperação da Guiné Equatorial já tinha referido à agência Lusa estar «praticamente seguro» de que os homólogos dos outros Estados da CPLP veriam que «há uma vontade política, há uma determinação do país, para que a Guiné Equatorial tome o seu assento na família que lhe pertence por razões históricas, culturais e de língua».

Maputo com Lisboa

Na quarta-feira, numa reunião à margem do Conselho de Ministros da CPLP, o ministro português Rui Machete e o seu homólogo moçambicano debateram temas como as relações económicas entre os dois países.

À saída do encontro, Oldemiro Baloi anunciou aos jornalistas que em Março terá lugar a II cimeira bilateral entre Moçambique e Portugal, a realizar em Maputo.

Os dois governantes afirmaram ainda partilhar «identidade de pontos de vista sobre as condições de adesão da Guiné Equatorial» à CPLP.

Antes do parecer favorável deste Conselho de Ministros, apenas Maputo se mantinha mais perto de Lisboa em relação a este tema, defendendo essencialmente que é necessário haver primeiro maior abertura política em Malabo para depois se efectivar a entrada na CPLP. Os outros Estados-membros colocam a questão ao contrário: será a adesão como membro de pleno direito na Comunidade a criar e permitir essa abertura política da Guiné Equatorial.

Esta semana, antes de partir para Maputo, o ministro cabo-verdiano Jorge Borges defendeu que «não é o potencial económico da Guiné Equatorial o móbil para a sua aceitação na CPLP, mas sim os laços culturais comuns aos restantes países da comunidade».

O país liderado por Teodoro Obiang é o terceiro maior produtor de petróleo do continente africano.

Angola defende Comunidade aberta

«Angola defende a passagem da Guiné Equatorial para o estatuto de membro de pleno direito e sem condicionalismos. Nós não colocamos nenhum condicionalismo a esta adesão» – confirmou ao SOL, esta segunda-feira, o embaixador Oliveira Francisco Encoge, director do Gabinete de Apoio à CPLP do Ministério das Relações Exteriores de Angola.

Os presidentes da Guiné Equatorial e de Angola são os que estão há mais tempo no poder em África: Teodoro Obiang desde Agosto de 1979 e José Eduardo dos Santos desde Setembro do mesmo ano.

Oliveira Encoge reiterou que Angola defende «a ideia de que a CPLP tem de ser uma comunidade aberta»: «Devemos crescer mantendo os princípios que regem a nossa organização. A Guiné Equatorial é um país que tem a língua portuguesa como língua oficial e, por isso, consideramos que está em condições de fazer parte da nossa comunidade».

A X Conferência de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, a realizar em Julho, em Díli, e a assegurar a passagem da presidência da comunidade de Moçambique para Timor-Leste, deverá colocar o carimbo definitivo na adesão da Guiné Equatorial. São os Chefes de Estado que, com base no parecer do Conselho de Ministros, tomam essa decisão.

ana.c.camara@sol.pt*com Carlos Ramos