Com a saída de Jardim, antes do Verão, para o Parlamento Europeu, o espaço ficaria livre para antecipar o Congresso (marcado para Dezembro), do qual sairá o novo líder do PSD-Madeira. A solução era desejada pela oposição, com Miguel Albuquerque – que mantém boas relações com Passos Coelho – à cabeça. Jardim recusou.
Mas se os opositores não vão ter o que pretendem, Jardim também não. O presidente do Governo Regional da Madeira teve um sinal do Presidente da República de que não ia deixar passar a estratégia de sair em Janeiro de 2015 – para dar lugar a um sucessor e, assim, este ganhar vantagem para as eleições regionais de Outubro. Belém dissolveria a Assembleia Regional e convocaria eleições antecipadas.
“A auscultação que Jardim fez a Cavaco Silva esbarrou nas reservas do Presidente de que se criasse pressão por parte da oposição, pelo facto de o presidente regional não ser eleito e ficar posta em causa a sua legitimidade”, explica ao SOL Guilherme Silva, vice-presidente da Assembleia da República e próximo de Jardim. “Tal implicaria a dissolução do Parlamento madeirense e a convocação de eleições antecipadas e, então, Jardim prefere levar o mandato até ao fim”.
Foi essa indicação também que Jardim deixou num artigo, esta segunda-feira, no Jornal da Madeira: “Na eventualidade de o senhor Presidente da República não aceitar a mudança de presidente do governo e pretender eleições antecipadas – o que seria um ‘golpe de Estado constitucional’ tal como o de Sampaio – eu estou disposto a levar o mandato de governo até ao fim”. Em Belém, ninguém comenta o assunto.
Caso Jardim opte, ainda assim, por deixar o mandato a meio, o CDS avisa que pedirá eleições. “Jardim não pode fazer um calendário político a seu gosto”, afirma ao SOL o presidente do CDS-Madeira, José Manuel Rodrigues. Tal não seria inédito: em 2007, Jardim pediu a exoneração do cargo, tendo saído reforçado nas novas eleições.
A oposição interna do PSD a Jardim aponta a crescente fragilidade do partido para antecipar o Congresso e já obteve as assinaturas necessárias. Mas quem decide é o conselho regional do partido, no final deste mês, onde Jardim tem maioria de apoiantes.
“Há um desgaste muito grande no PSD e as autárquicas foram um sinal muito claro ao partido. Não apresentar uma renovação já é prejudicial, porque a oposição vai consolidando o apoio com base no poder autárquico que conquistou”, avisa Miguel Albuquerque, ex-presidente da Câmara do Funchal e um dos quatro candidatos à sucessão (ver entrevista ao lado).
Surpresas e ausências
A lista da coligação à Europa foi negociada ao mais alto nível, entre Passos e Portas. Com a recusa de Jardim – que, além do mais, não aceitaria ser n.º 2 –, o lugar da Madeira ficou para a quota feminina. Uma “solução preferível”, segundo Jardim, já que, devido à lei da paridade, não era possível manter o eurodeputado, Nuno Teixeira, em lugar elegível.
O mesmo aconteceu com o centrista Diogo Feio. No Conselho Nacional do CDS, na quarta-feira, o sentimento geral entre os conselheiros era de resignação. Para o CDS ficar com o 8.º lugar, em vez do 9.º, teve que optar por uma mulher. E, apesar de Paulo Portas ter declarado que Ana Clara Birrento – uma escolha inesperada, fora do círculo habitual centrista – é “seguramente elegível”, nada está garantido.
De fora da lista encabeçada por Paulo Rangel ficou também Mário David, da ala barrosista do PSD, que vai continuar como vice-presidente do PPE. E ainda Graça Carvalho, Maria do Céu Patrão Neves e Regina Bastos.
A integrar a Aliança Portugal estará também o ‘autarca-dinossauro’ Fernando Ruas, em 2.º lugar na lista. Seguem-se Sofia Ribeiro (indicada pelos Açores), Carlos Coelho (um repetente), Nuno Melo (primeiro nome do CDS), Cláudia Aguiar (Madeira), José Manuel Fernandes (outro repetente), José Mendes Bota e Ana Clara Birrento.
O programa eleitoral vai estar organizado em 101 tweets (textos curtos) – “como os 101 Dálmatas”, nas palavras de Paulo Rangel.