Se, para os primeiros, criou hits redondinhos que conquistaram os lugares cimeiros das tabelas de vendas, com Chad Hugo, partindo sempre da essência do hip hop, dedicou-se à descoberta de novos caminhos, cruzando genéticas sonoras distintas em prol de canções que, depois de lançadas, acabavam sempre por ditar as tendências futuras da indústria discográfica.
Aclamados pela crítica, In Search Of… (2002) e Fly or Die (2004), os dois primeiros álbuns de N.E.R.D, elevaram então Pharrell a um patamar de sumidade entre os músicos norte-americanos e a sua capacidade em saber olhar ao seu redor e transformar o que capta em matéria apelativa às massas – vejam-se temas como ‘I’m a Slave 4 U’, de Britney, ou ‘Rock Your Body’, de Timberlake – começou a ser solicitada por toda a gente. E Pharrell, inteligente e perspicaz, manteve sempre estas duas esferas artísticas separadas (mesmo quando chamou Snoop Dogg e Jay-Z para o primeiro disco a solo, In My Mind, de 2006), conquistando os dois lados do campeonato: o mercado independente e o mainstream.
O ano de 2013 foi de mudanças para o músico. A nível pessoal completou 40 anos e casou-se com a designer de moda Helen Lasichanh, e, no que toca à vida profissional, o seu nome saiu finalmente dos bastidores para conquistar um lugar no pódio da fama. Esse protagonismo deveu-se à participação no hit ‘Get Lucky’, dos Daft Punk, e ao single ‘Happy’, que escreveu para o filme de animação Gru: o Maldisposto 2, e que se transformou num sucesso viral quando Pharrell lançou o seu teledisco com, literalmente, 24 horas. Pelo meio ainda escreveu ‘Blurred Lines’, para Robin Thicke (a canção que originou a interpretação polémica de Miley Cyrus na gala da MTV). Em que medida tudo isto influenciou Pharrell está resumido no seu novo trabalho G I R L.
Depois de In My Mind, o músico tinha avisado que não voltaria a editar um disco a solo, mas mudou de ideias no ano passado, contou à revista online Pitchfork, quando a Columbia lhe ofereceu um contrato irrecusável. Quando começou a compor os novos temas quis, então, “criar qualquer coisa que soasse bem”, cheio de “groove”. Ou seja, em sintonia com a etapa feliz que atravessa.
G I R L é isso mesmo: um disco pop bem construído, de quem domina as artes da produção de forma absolutamente eficaz e que sabe fazer como ninguém canções orelhudas, que cativam milhões de ouvintes no mundo inteiro. E se não estivéssemos a falar de Pharrell não haveria problema algum. O senão aqui é que já sabemos que o músico é capaz de fazer muito mais e melhor. Como está gravada, toda esta boa disposição que percorre o disco soa, antes, a preguiça. À Pitchfork, Pharrell disse que G I R L é “a melhor coisa” que já fez. Quem acompanha a sua carreira sabe que está a ser condescendente consigo próprio. G I R L é, de facto, o registo mais bem-disposto e descomprometido que Pharrell fez. Vindo de quem vem, tem a qualidade que se expecta. Só não é, de todo, uma obra-prima.
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