Auto-retratos perigosos

Na semana dos Óscares mais uma vez ficou demonstrado que o folclore associado às redes sociais consegue chegar cada vez mais longe. Na noite da consagração de realizadores e actores, entre outros, seria de esperar que o mais falado no dia seguinte fosse o vencedor de cada categoria. Mas não. Nas primeiras páginas dos sites…

Já nas cerimónias fúnebres de Nelson Mandela um auto-retrato do Presidente americano com a primeira-ministra dinamarquesa e com o chefe do Governo britânico tinha feito furor.

Os auto-retratos, de qualidade inferior – veja-se a selfie dos Óscares que é bem pior do que a do fotógrafo profissional que ‘apanhou’ o momento -, ganham uma vida própria e tornam-se virais.

Ambos os auto-retratos aqui falados foram ‘tirados’ à frente de milhões de pessoas que assistiam pela televisão aos acontecimentos. Digamos que são os próprios que fazem a notícia e são eles próprios a notícia. E é neste caminho novo que os actores e realizadores irão fazer os seus filmes. Leia-se ‘políticos’, ‘figuras públicas’ e ‘jornalistas’.

Há três meses surgiu uma notícia bem curiosa sobre um mundo de aparências. A Vanity Fair queria fazer um artigo sobre uma alegada traição da actriz Gwyneth Paltrow e esta conseguiu ‘congelar’ a notícia e apelou a todos os amigos para não colaborarem com a revista.

No seguimento dessa ‘luta’ muito se discutiu sobre o novo papel da dita imprensa séria. Para muitos, o facto de as figuras conhecidas revelarem o que bem entendem nas suas páginas sociais vai dar origem a que os jornalistas procurem o que não aparece nos tais auto-retratos. Como as notícias são feitas por quem é notícia, muitos estão a virar-se para o lado negro dessas personagens. O que, como é óbvio, não é nada saudável. A imprensa não tem que perseguir ninguém, apenas tem que noticiar. Com ou sem selfies…

vitor.rainho@sol.pt