Esta semana chega ao circuito comercial Lições de Harmonia, rara co-produção entre o Cazaquistão e a Europa, e a primeira longa-metragem de Emir Baigazin, que conta já com mais de duas dezenas de prémios internacionais, entre os quais o Urso de Prata do Festival de Berlim e o Prémio Especial do Júri no Lisbon & Estoril Film Festival. Em entrevista online, traduzida em simultâneo pela sua actual produtora, o realizador de 29 anos realçou a tendência do seu país para o cinema de autor, na senda do «grande poeta do cinema» Omirbayev.
Formado na Academia Nacional das Artes do Cazaquistão e natural de Almaty, capital económica e cultural daquele país, Baigazin assina como realizador, argumentista e montador um pungente drama «sobre o sistema de violência na natureza humana». Interpretado pelo silencioso Timur Aidarbekov, encontrado numa audição realizada num orfanato, o protagonista chama-se Aslan, tem 13 anos e é vítima de bullying. Ao longo do forçado isolamento, a personagem fermenta uma peculiar resposta ao sistema de sobrevivência hierarquizado de que o ambiente escolar é apenas um microcosmos.
Baigazin descarta motivações pessoais na criação desta antecâmara da violência: «Não faria um filme sobre algo que me aconteceu há uns anos ou sobre algo que li no jornal». Nem leituras literais que tomem o filme como um retrato do Cazaquistão: «É uma história universal, que pode ter lugar em qualquer sítio, não é uma ilustração directa de como é a vida no meu país».
O cineasta prepara o segundo tomo da trilogia (iniciada com Lições de Harmonia) sobre a adolescência – «idade de transformação em que não se é criança nem adulto e que representa um novo começo» – e a que dará o título The Wounded Angel, roubado ao quadro do pintor finlandês Hugo Simberg. É a pintura, como a de Munch e Modigliani, o motor do cinema de Baigazin, para quem pouco sentido faz privilegiar subtextos: «A imagem do cinema é infinita».