Os governantes sul-americanos expressam “preocupação perante qualquer ameaça à independência e soberania” da Venezuela. A UNASUR avança ainda que, a pedido do Governo de Caracas, vai criar uma comissão para “acompanhar, apoiar e assessorar um diálogo político amplo e construtivo”.
Enquanto o representante venezuelano se mostra satisfeito com a aprovação da UNASUR, mais três pessoas morrem em confrontos entre forças de segurança e milícias chavistas, de um lado, e os manifestantes que erguem barricadas, do outro. O saldo de mortos ascende a 28. Na televisão, o Presidente enfurecido ameaça: “Vou tomar medidas drásticas contra estes sectores que estão a atacar e a matar pessoas”.
Chapelada ao Panamá
O apoio da UNASUR é mais um ponto a favor de Nicolás Maduro, que ainda na semana passada parecia estar numa situação de maior vulnerabilidade na região. No dia 6, depois de o Panamá ter convocado uma reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA) para debater a crise na Venezuela, o Presidente anunciou o corte de relações diplomáticas e económicas com o país da América Central – e deu ordem de expulsão ao embaixador e a outros três diplomatas.
Maduro considera a OEA maleável às manipulações de Washington – e viu no pedido do Panamá uma tentativa de ingerência. No fim, ainda foi o líder venezuelano quem riu por último: EUA, Canadá e Panamá saíram derrotados da reunião de sexta-feira passada. O Conselho Permanente da OEA declarou o seu “apreço, apoio total e encorajamento pelas iniciativas e esforços do democraticamente eleito Governo da Venezuela”.
A organização manifestou “respeito pelo princípio da não-intervenção em assuntos domésticos dos Estados”. EUA e Panamá acrescentaram notas de desacordo no documento final, afirmando que a OEA está a tomar o partido do Governo e que a declaração “não reflecte o compromisso da organização de promover a democracia e os direitos humanos”.
Com as organizações internacionais da região a segurar a mão do Presidente, Maduro pode respirar de alívio – e esperar que as manifestações diárias acabem por esmorecer ou que lhes saia o tiro pela culatra. Os milhares que saem às ruas e imobilizam partes das cidades, exigindo melhores condições de vida, não estão a facilitar o quotidiano do cidadão comum, insatisfeito com a falta de bens essenciais mas que não vê progressos concretos ao cabo de um mês de reivindicações.
Das mais de 1.300 pessoas detidas, 92 continuam sob custódia policial ou militar, como o líder da oposição Leopoldo López. Maduro foi o herdeiro escolhido por Hugo Chávez, recordado com saudade por uma multidão no primeiro aniversário da sua morte, no dia 5. E os militares estão com Maduro – enquanto assim for, não haverá lugar para uma Primavera Venezuelana.