Uma presença ausente

Quando Subhash chegou aos EUA para se especializar em oceanografia, “a diferença era tão extrema que ele não conseguia acomodar os dois sítios juntos na sua cabeça”. Pensava muito no irmão, Udayan, que ficara em casa dos pais, em Tollygunge, a sul de Calcutá, e queria permanecer-lhe leal, mas esta afeição mútua estava “esticada até…

Além da distância física, separava-os a entrega radical de Udayan ao movimento de insurreição naxalita, liderado pelos comunistas maoístas indianos. Subhash e Udayan, e depois Gauri, a mulher que será de ambos, protagonizam A Planície, o novo romance de Jhumpa Lahiri, saído em 2013.

Lahiri nasceu em Londres e cresceu nos EUA, mas esteve sempre em trânsito para a terra-natal dos pais: Calcutá, Índia. Hoje a viver em Roma, diz: “Não tenho qualquer relação particular com um lugar ou um país”. O registo desta sensação de não-pertença, ou pertença incerta, em histórias de imigrantes indianos na América valeu-lhe logo na estreia, em 1999, com o livro de contos Intérprete de Enfermidades, os prémios Pulitzer, PEN/Hemingway e New Yorker for Best First Book. Bela como Arundhati Roy, Lahiri marcava também a ascensão da literatura indiana em língua inglesa aos tops e à coqueluche dos salões literários. As suas ficções, realistas, mas impregnadas de complexidade emocional, elevavam-na do território redutor do exotismo para o campo da literatura moral, sobre imigração e pós-colonialismo.

Lahiri já afirmou que A Planície, planeado durante uma década, fecha um ciclo de escrita e que não sabe o que se lhe irá seguir. Melhor assim. Após dois livros de contos e dois romances, o tema do trauma da diferença e da solidão identitária esgotou-se.

Lahiri, sempre tão contida e segura, perde-se a meio do livro e não lhe resta senão esticar até ao limite o incidente dramático central – especificá-lo aqui seria ainda mais redutor. Quase cinco décadas da história da Índia e dos EUA e um grande investimento em múltiplos pormenores de dimensões política, histórica, intelectual ou até mesmo ecológica, resultam assim num melodrama familiar, num segredo de paternidade xaropado e numa paisagem demasiado plana e poluída.

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