A bitola mínima é eleger o segundo eurodeputado do CDS ou não há vitórias morais?
Vou a votos acreditando que podemos vencer, dependendo ainda de muita coisa e num desafio difícil. Um mau resultado é perder, por um voto que seja, muito mais que o número de deputados alcançados. Sou pouco dado a vitórias morais, mais ainda quando concorremos em coligação.
A lista do PSD/CDS tem sido criticada por ser fraca e do aparelho. Como se sente neste conjunto?
Sinto-me muito bem. Habituei-me, na vida e na política, a ver e ouvir críticas em relação a tudo, como é normal. Em democracia o unanimismo é impossível. Há quem considere que a lista não será extraordinária, há quem a considere muito boa. Eu parto com a consciência tranquila.
Mas concorda que é uma lista do aparelho…
Não concordo. Embora, como em todas as listas, haja sempre uma expressão de aparelho. Não tem é de ter sempre uma carga negativa, traduz a organização funcional dos partidos. Agora, estas listas são muito mais que isso.
O regresso de Relvas ao PSD não passa uma mensagem errada?
São escolhas que competem ao PSD e não comento por respeito.
Cavaco tem feito apelos ao consenso. Seria desejável um Governo PSD/CDS/PS nas legislativas?
As circunstâncias específicas que Portugal atravessa deveriam implicar que os três partidos responsavelmente conseguissem alcançar acordos muito nítidos, para além de conjunturas estritamente partidárias. Tivemos um exemplo importante com o IRC. Desejo que esses acordos aconteçam agora e depois das legislativas, onde gostaria de ver reeditada uma maioria de centro-direita.
Um Governo com o PS está fora de questão?
É vantajoso que as três forças que representam o arco de governação estabeleçam acordos. A forma é, para já, menos relevante.
António José Seguro afirma que há ‘divergências insanáveis’. Como é possível um consenso para uma estratégia pós-troika?
Quero acreditar que esta declaração tão radical tem a ver com o tempo das eleições. Isso significaria que depois de 25 de Maio, e esquecendo o interesse partidário, prevaleceria o interesse nacional.
Com a radicalização do discurso, de Rangel e Assis, por exemplo, como se alcança um consenso?
Vejo essa crispação como uma manifestação conjuntural do tempo eleitoral. Mas os consensos são sempre possíveis se os dirigentes tiverem bom senso. A 17 de Maio, antes disso até, será conhecido o que acontecerá a Portugal, definindo muito do que será a campanha e o discurso dos partidos.
E isso prejudicará a lista PSD/CDS?
O que suceda a 17 de Maio não pode ser condicionado pelas eleições. O interesse nacional tem de prevalecer sobre uma expectativa partidária, que em larga medida justifica porque chegámos aqui. Dito isto, não acredito que a coligação venha a ser penalizada, muito pelo contrário. Vai haver uma avaliação política nas urnas. Haverá uma separação nítida de que quem nos trouxe a troika foi o PS, depois de seis anos de um Governo que nos impossibilitou de financiar e Portugal não teve alternativa senão recorrer à troika. E os partidos que vão livrar Portugal da troika, no sentido da actual situação de resgate com avaliações trimestrais e uma governação fortemente condicionada. 17 de Maio pode inverter esse ciclo e, até por isso, acredito que podemos vencer as eleições num exercício que, em certa medida, é de alguma justiça.
PSD e CDS devem reeditar a coligação para as legislativas?
As coligações, que vejo sempre como excepcionais, devem ter como principal motivação uma avaliação do interesse geral. Se os pressupostos se repetirem, e será possível que se repitam em 2015, não excluiria, obviamente, essa coligação.
Prefere uma entrada limpa nos mercados ou um programa cautelar?
Espero uma solução que permita a Portugal financiar-se nos mercados, com as menores taxas de juro possíveis.
A actuação da troika em Portugal poderia ter sido diferente?
É evidente que poderia ter sido diferente. Fui o primeiro eurodeputado a reagir no Parlamento contra o facto de o FMI reconhecer erros nos multiplicadores que justificaram um programa de austeridade em concreto, para depois não fazer uma correcção de trajectória em relação ao esforço pedido. Sou o primeiro a achar que deveria ter havido uma menor intensidade do lado dos credores quanto ao grau de exigência pedido a muitos dos países intervencionados.
Nomeadamente a opção pelo aumento de impostos?
Diria que em vários aspectos que têm que ver com juros, dívida, maturidade e metas de défice. Apesar de tudo, desde a versão inicial até hoje e, devido a estas reacções e insistência – menos do que o desejável, mas melhor do que tínhamos -, conseguimos algumas alterações nestes domínios.
Mas acha que foi o suficiente?
Não sei se foi o suficiente, tenho a certeza que foi o possível. E a política é a arte do possível. Se por um lado desejaria que estes credores tivessem sido mais bondosos nas metas que fixaram, principalmente porque parte destes credores reconheceram erros, por outro também não desconheceria que houve alterações muito relevantes pelo caminho.
Onde se pode cortar mais para atingir os dois mil milhões necessários?
Espero que não se corte muito mais. Portugal já atingiu um nível de esforço notável do ponto de vista de quem o prestou – trabalhadores, empresas, famílias -, mas também dos resultados. Esse esforço está já no limite do que os portugueses podem prestar.
Quando podemos baixar impostos?
Não sei, não sou membro do Governo, mas diria tão cedo quanto possível, muito embora tendo noção que temos encargos por muitos anos. Houve quem durante muito tempo achasse normal que Portugal fosse acumulando défice e dívida na expectativa de que não tivesse que se pagar. Um absurdo! O que seria trágico é que esta linha política que José Sócrates representou, com discípulos que se pudessem fariam a mesma coisa, não volte a governar Portugal por muitos e bons anos.
Um conjunto vasto de personalidades, da esquerda à direita, assinou um manifesto pela reestruturação da dívida. Ficou surpreendido?
Sublinhando o respeito pela opinião, causa-me muita estranheza e custa-me ver, por exemplo, pessoas como Manuela Ferreira Leite ou Bagão Félix do lado de Francisco Louçã. Já estive do lado da trincheira de Ferreira Leite contra tudo aquilo que Louçã representa e não me ocorre que tenha sofrido uma alteração tão radical em tão pouco tempo.
Parece haver cada vez mais gente a apoiar uma reestruturação…
A reestruturação tem acontecido na medida do possível. Não basta dizer que queremos, temos que ter um acordo, como aliás a esmagadora maioria das pessoas que assinou o manifesto bem sabe. Em relação a perdões de dívida sou contra. Sobre a mutualização da dívida acho extraordinário que um dia possa acontecer mas, neste momento, há países determinantes, como a Alemanha, que a rejeitam. Portanto, a ideia é óptima para constar num manifesto, mas não é exequível.
Deveria ter havido mais pressão para uma reestruturação mais expressiva?
Mas alguém duvida que o Governo faz toda a pressão e mais alguma para conseguir as melhores condições? Mas a pressão que Portugal todos os dias coloca na troika tem do lado de lá a vontade dessa troika.
Somos demasiado pequenos?
Não se trata de sermos pequenos. Temos de ter um ponto de encontro entre as expectativas do Estado português e a margem de disponibilidade dos credores.
Houve uma crise política no Verão. O CDS já se sente confortável no Governo?
Não escondo uma crise que o país inteiro viu, mas o que me importa são os resultados. E não tenho dúvida nenhuma que o Governo, finda essa crise, está hoje mais forte e coeso. Se essa crise aconteceu foi certamente porque nem tudo estaria bem mas, se nunca mais houve nenhuma e os governantes estão coesos, acabou por se traduzir num bom resultado.
Seria vantajoso PSD e CDS apoiarem o mesmo candidato às Presidenciais?
Julgo que sim, manifestamente, como aliás já tem sucedido.
Marcelo ou Durão?
Ou muitos outros. É importante que o Presidente seja uma personalidade geradora de consensos e estabilidade e não um protagonista de facção contra quem governe. O facto de o Professor Marcelo ser um bom candidato não invalida que Durão Barroso não o seja, a diferença é a maximização eleitoral que cada um deles terá.