Conhecido pelas suas imagens da África subsaariana, a abordagem do fotógrafo é habitualmente descrita pelos críticos de arte como ‘quase documental’. E Pieter Hugo sente-se confortável nessa ‘gaveta’. “A fotografia tem tudo a ver com o acto de olhar e o que me interessa explorar com a fotografia é o espaço que existe entre o documental e a arte”, diz ao SOL por email, a partir da Cidade do Cabo, África do Sul, uns dias antes de viajar até Lisboa para inaugurar, na Fundação Calouste Gulbenkian, a exposição antológica Este é o Lugar.
A mostra, patente até 1 de Junho, percorre a última década de actividade de Pieter Hugo e revela alguns dos seus trabalhos mais aclamados como, entre outros, ‘The Hyena & Other Men’, sobre animais domesticados na Nigéria (copiado em videoclips por Beyoncé e Nick Cave); ‘Nollywood’, sobre a terceira maior indústria de cinema do mundo, também na Nigéria; ou ‘Permanent Error’, sobre o desastre ecológico Agbogbloshie Market, em Accra, no Gana, local de despejo para os desperdícios tecnológicos do mundo ocidental.
“O impulso para fotografar uma história é sempre visceral, mas depois há várias motivações. A série das hienas e do mercado de Agbogbloshie surgiram da minha curiosidade compulsiva de olhar, mas depois há outros trabalhos mais conceptuais, como Nollywood, em que quis, definitivamente, ser cómico”. A par disso, comenta, há trabalhos que se impõem como desafios a si próprio. “A colecção de nus [em que, em vez da beleza normalmente associada a estes retratos, vemos a banalidade do corpo humano] surgiu de uma pergunta interior: ‘Como fotografo um nu sem perpetuar um cliché?’“.
Apesar de não trabalhar exclusivamente em África, Pieter Hugo é peremptório em afirmar que o seu trabalho está “profundamente ligado” ao facto de ter crescido na África do Sul. “É um país problemático e depois de Mandela instalou-se uma verdadeira crise moral. Actualmente o país está a apodrecer”, diz, comentando que, inicialmente, a fotografia serviu-lhe de desculpa para materializar as suas dúvidas.
Fotógrafo desde 2001, montar Este é o Lugar ajudou-o a olhar para o seu trabalho em perspectiva e ter uma noção mais clara sobre quais têm sido as suas preocupações ao longo dos anos. “A minha maneira de ler o mundo mudou definitivamente, mas há alguns temas principais que percorrem o meu trajecto. Acho que a pergunta ‘o que é real?’ é a grande questão que o meu trabalho representa”.