Enquanto vejo as pessoas com dificuldades em manterem um sorriso na cara, olho para os sites portugueses e fico sem resposta para as perguntas que os angolanos me colocam. “Então vão oferecer carros a quem pede facturas? E isso tem algum mal?”; “Vão fazer uma escola com um investimento de 100 milhões de euros? Isso é mau?”.
Depois de alguns risos amarelos lá explico que em Portugal nem todos são o anão Zangado, ou o capitão Haddock, apesar de termos algumas semelhanças. Não se trata de comparar o que não é comparável, mas penso que talvez devesse existir uma disciplina na escola primária que falasse de auto-estima, de prazer puro e de elogio. A este propósito lembro-me sempre de um amigo que tem um fantástico restaurante e que recebe os maiores elogios dos estrangeiros: ‘fantástico’, ‘maravilhoso, como sempre’, são alguns dos comentários que os velhos comensais proferem. Já no que diz respeito aos portugueses, “obrigado, estava bom, mas já comi melhor”; “sim, não estava mau”. Será que a herança de Salazar ainda é assim tão forte? Pobrezinhos e tristes? Quero acreditar que não.
vitor.rainho@sol.pt