Portas na rota das arábias

Paulo Portas inicia na quarta-feira a maior missão empresarial ao Médio Oriente, visando colocar Arábia Saudita, Kuwait e Qatar na rota das exportações portuguesas. É a quarta vez desde que é vice-primeiro-ministro que irá em missão a esta zona do globo, que constitui uma aposta clara da diplomacia económica.

A missão empresarial arranca na Arábia Saudita, com 50 empresas dos sectores agro-alimentar, tecnologias da informação, energia, saúde e construção. Daí, Paulo Portas segue em missão oficial ao Kuwait e Qatar, entre 5 e 9 de Abril.

Portas já tinha estado em Novembro nos Emirados Árabes Unidos, a convite de um grupo de reflexão, em Dezembro numa missão empresarial também ao Qatar (com 42 empresas e onde se firmaram acordos de 300 milhões de euros) e, já no início de Março, para contactos com o respectivo governo.

A aposta no Médio Oriente é visível também pela frequência com que se vêem delegações de árabes no Palácio das Laranjeiras, onde o vice-primeiro-ministro tem o seu gabinete. Além dos árabes, são as delegações de russos as mais frequentes visitas nas Laranjeiras. A Rússia é, aliás, outro mercado que Portas quer ‘abrir’ e onde esteve em Novembro passado.

‘Caixeiro-viajante’,diz o próprio

Nestas viagens, Paulo Portas tem apresentado os benefícios dos ‘vistos gold’, uma bandeira que criou quando era ministro dos Negócios Estrangeiros e que tem atraído empresários por causa do livre acesso ao espaço Schengen da União Europeia, que essas autorizações de residência permitem. “Imediatamente se gera interesse quando se acena com os ‘vistos gold’”, conta fonte oficial do gabinete do vice-primeiro-ministro. Num discurso na Câmara do Comércio e Indústria, na Rússia, Portas disse esperar “300 milhões de euros no final do ano [de 2013] de investimentos em ‘vistos gold’”.

Recorde-se que os vistos estiveram no fim-de-semana passado envoltos em polémica, após a detenção por fraude fiscal de um cidadão chinês, o que levou o BE a apelidar este mecanismo de “paraíso para burlões”. Criados em Outubro de 2012, já foram atribuídos 772 vistos e rejeitados 12.

Já como vice-primeiro-ministro, Portas esteve também na Venezuela – com 40 empresas e onde fechou negócios com um potencial de 2,2 mil milhões de dólares –, em Londres, na Argélia – com 36 empresários, fechando acordos de 500 milhões de dólares – e no Brasil (ver mapa).

Por isso, o vice-primeiro-ministro já se chama a si próprio “caixeiro-viajante”, pelas numerosas viagens que tem feito a vender os produtos do país e uma imagem de Portugal a sair da crise. Esta é, aliás, a maior dificuldade que Portas tem enfrentado: um país sob assistência financeira não é atractivo para os negócios.

As empresas que integram as missões são escolhidas pela AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal) e, por regra, já têm algum trabalho feito nesses mercados. Apesar da diversidade de sectores, são as empresas agro-alimentares, de raiz mais tradicional, as “meninas-dos-olhos” de Portas.

As missões empresariais são acompanhadas de perto por membros do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Economia e da AICEP – cujo presidente, Pedro Reis, tornou-se muito próximo de Portas, fazendo uma ponte com S. Bento.

Investimentos anunciados um mês antes de a troika sair

De resto, Paulo Portas desdobra-se em reuniões com os dirigentes dos países que visita. A facilidade em línguas, como o francês e espanhol, ajudam-no a criar relações, como a já estabelecida com a família real do Qatar. Como cortesia, Portas costuma levar, por exemplo, porcelanas da Vista Alegre, muito apreciadas pelos árabes.

A aposta é justificada: o Qatar é considerado o país mais rico do mundo em termos de PIB per capita e a Arábia Saudita, o primeiro produtor mundial de petróleo, tem quatro vezes o PIB português. Para concentrar as atenções nestes mercados potenciais, ainda pouco abertos a Portugal, os mais tradicionais, como Angola e Moçambique, têm sido deixados de lado.

Segundo o SOL apurou, Portas tem previsto anunciar uma série de investimentos durante o mês de Abril – ou seja, um mês antes da saída da troika (17 de Maio).

sonia.cerdeira@sol.pt