Conte-me como foi a sua infância no Líbano.
Foi uma infância feliz. Esperava outra coisa? A guerra civil começou quando tinha 12 anos. Foi só uma guerra como tantas outras… Não me afectou pessoalmente.
Um ano antes de ir estudar cinema para a Califórnia, em 1982, dera-se o massacre de Sabra e Chatila.
O campo ficava a 1 km da nossa casa. Vi a situação de fora. Na verdade foi assustador e traumático naquela altura, e senti que muito injusto. Mas depois fiz as malas e fui viver! Ser adolescente. Estudar nos Estados Unidos. Fazer filmes. Sou pragmático. Não sou muito romântico ou filosófico…
Acredita, como a personagem de Jaafari, que o conflito israelo-árabe “nunca vai acabar”?
Quando entrei em Israel, durante as rodagens, encontrei profissionais sérios e genuinamente bondosos. Não achava que um judeu pudesse ser bom. Descobri que existem vários mal-entendidos de ambos os lados. Fazer amigos israelitas fez-me mudar. É preciso sentarmo-nos frente a frente com o inimigo. Não tenho a solução para o conflito, mas criei uma solução individual: é este filme.
Os boicotes a Israel jogaram contra o seu próprio filme, por tê-lo rodado lá.
Não concordo com o boicote cultural. A ocupação (israelita) é uma violação, mas boicotar os artistas que apenas querem resolver o problema? Que não são beligerantes, que não são extremistas, muitos deles israelitas que renegam o seu próprio Governo?
‘O Atentado’ procura a neutralidade e, no entanto, é da mesma geração de realizadores como o israelita Ari Folman (‘A Valsa com Bashir’) e o libanês Samoel Maoz (‘Líbano’), cujos filmes eram testemunhos muito ligados à guerra.
Não os conheço pessoalmente, mas adoro o trabalho deles, assim como o The Band’s Visit (de Eran Kolirin). Mas antes de eles estarem a fazer filmes políticos, estão a fazer filmes.
Li críticas ao filme acusando-o de sanitizar a ocupação israelita. E que, por exemplo, nas cenas em Nablus, passa a ideia de que todo o povo palestiniano apoia os ataques suicidas.
A maior parte dos palestinianos apoia-os, esse é um dos maiores erros que cometeram. Há 15 anos dir-lhe-ia que todos os problemas do mundo eram culpa dos judeus, hoje acho que a maior parte dos problemas em que os árabes se meteram é por culpa deles próprios. Mas lembro que quando escrevemos um guião de ficção, ele tem uma vida própria fora da política. As pessoas pagam 10 euros para ir ver um filme e vão julgá-lo pelos actores e pelas personagens, estrutura, história. Não pela política, sociologia, economia lá contidas. Não sou um realizador politicamente comprometido, não estou aqui para mudar o mundo. Quisemos fazer uma história universal sobre como um homem pode ser casado com uma mulher durante tanto tempo sem saber o que ela faz nas suas costas.
Tem amigos árabes que tenham visto o filme?
Os árabes não aceitam que eu tenha trabalhado com judeus. É como se fosse um traidor.
E os seus amigos israelitas?
Adoraram.