O mentor do manifesto, João Cravinho, afirma que “é bizantino reduzir o problema a querelas semânticas”. E o economista Silva Lopes frisa que reestruturação e renegociação “são a mesmíssima coisa”.
O manifesto defende um abaixamento da taxa média de juro, um alongamento dos prazos da dívida e uma reestruturação da dívida acima de 60% do PIB. E um perdão de dívida? João Cravinho nota que o consenso das 74 personalidades é sobre o que está escrito, mas admite que o Manifesto não é uma “solução final”.
Carvalho da Silva, ex-líder da CGTP, diz não querer participar “num exercício que possa redundar numa exposição de diferenças” mas afirma que, à partida, “todas as soluções devem ser consideradas”. Contactado pelo SOL, o ex-líder do BE, Francisco Louçã, preferiu passar a palavra a João Cravinho.
Já o deputado do PS, João Galamba, vai mais longe e fala mesmo em haircut (ver caixa abaixo). Opinião diferente tem o socialista Vera Jardim que afirma que um perdão de dívida “seria negativo” para Portugal, bem como o líder da CIP, António Saraiva, que defende “honrar os compromissos”.
Democracia ‘vai estoirar’
“Sentimos que a democracia está a ser posta entre parêntesis”, confessa Cravinho. Isto porque Governo e partidos à direita têm considerado inoportuno discutir uma reestruturação nas vésperas da troika sair de Portugal, a 17 de Maio. “Também era sempre inoportuno discutir a Guerra Colonial. Voltámos à ditadura?”.
Já Carvalho da Silva vaticina: “A democracia vai estoirar primeiro que uma solução apareça”. Sem reestruturação, o ex-ministro das Finanças, Silva Lopes, avisa que terá de haver mais cortes na despesa do Estado ou mais aumento de impostos. “E para manter a dívida como está, serão muito mais violentos”.
O objectivo dos subscritores é lançar a discussão dentro das instâncias europeias, uma vez que a reestruturação já feita pelo Governo, nomeadamente a nível de prazos, não é suficiente, dizem. Aliás, o manifesto procura “reforçar a capacidade negocial” do Governo na Europa, explica Cravinho.
O deputado do PS, Ferro Rodrigues, nota que há um consenso nacional contra a austeridade e frisa que quem assinou o manifesto, da esquerda à direita, se compromete com um “equilíbrio orçamental saudável”.
O manifesto deu origem a uma petição que, por ter conseguido as quatro mil assinaturas necessárias, vai em breve ser discutida no Parlamento. Até agora, e em apenas uma semana, a petição já conta com 34 mil subscritores.
Mas o facto de o documento ter evoluído para uma petição não agrada a todos. António Saraiva, um dos apoiantes iniciais do manifesto, diz que este “ganhou vida própria e uma politização excessiva” e se fosse hoje não o teria assinado.