Kuduro

Entrámos no restaurante-discoteca, na Ilha de Luanda, e o meu amigo angolano fez uma cara de espanto e de alegria ao avistar alguém do seu agrado. Sem perceber muito bem a razão de tanta euforia, até porque não vi a pessoa em questão, segui o meu caminho. Estava uma noite como tantas outras, em que…

Pouco depois percebi a razão de alegria do meu amigo: uma portuguesa de porte forte e sorriso largo espalhava o seu charme pela pista. Nesse momento percebi como os conceitos de beleza são diferentes de acordo com a latitude. Se é certo que já o tinha constatado em relação às angolanas – tanto as mais magras como as mais largas e possantes têm os seus fãs -, nunca tinha pensado no fenómeno em relação a quem vai de fora e encontra um séquito de admiradores que, por norma, não encontra no seu país de origem.

O meu amigo não estava sozinho. Percebi que eram vários os homens que estavam fascinados com tal criatura. No dia seguinte, uma amiga confessou-me que as portuguesas que mais sucesso fazem em Angola são aquelas que vestem XL ou mesmo XXL. Os homens ficam doidos e fazem grandes e eloquentes declarações de amor. O que não deixa de ser divertido, até porque, ao contrário da Europa, em África não há a ditadura do corpo.

Claro que há quem não prescinda de andar ‘na linha’. Os homens são bem o exemplo disso, usando calças bem curtas e apertadas, além dos sapatos bicudos, assim como as mulheres das novas gerações. Basta ver as modelos, que são quase todas muito magras. Outro fenómeno curioso nas noites luandenses é que aqueles que gostam de aparentar estar na linha da vanguarda optam por usar uma vasta cabeleira, contrariando a tendência das carecas. Também as barbas, idênticas à de James Harden, o craque da NBA, se fazem notar – em Portugal são cada vez mais os adeptos desse look.

P. S. Não sou adepto nem fã de kuduro e também não morro de amores por hip hop. Por isso, em Luanda procuro casas onde tais sonoridades passem o menos possível. Qual não foi o meu espanto quando, chegado de Luanda, vou ao Lux, em Lisboa, e oiço precisamente essas duas batidas no bar do primeiro andar. O estilo afro está mesmo na moda…

vitor.rainho@sol.pt