Ir além do bloco central

São cada vez mais as personalidades, da esquerda à direita, a apelar a um entendimento entre PS, PSD e CDS, no pós-troika. E depois das legislativas de 2015. A crença num governo de maioria absoluta que saia das eleições é muito ténue e por isso as soluções multiplicam-se: há quem defenda um Bloco Central e…

Esta ideia é defendida por um vice-presidente do Parlamento, o socialista Ferro Rodrigues, pegando no exemplo do Manifesto dos 74, que conseguiu juntar nomes fortes de todo o espectro partidário pela reestruturação da dívida. “Portugal está numa situação muito grave que não se recupera com a clássica alternância entre a Direita e o PS”, defende ao SOL. Para o país ganhar força de escala europeia precisa de uma base interna de apoio ampla: “Tem de ser mais que um Bloco Central. Tem de ser um governo amplo à direita e à esquerda. O Manifesto é um exemplo do que pode ser uma solução para o país; como se percebe é possível juntar pessoas em questões concretas e programáticas de diferentes quadrantes da política”.

Um governo amplo da esquerda à direita não é consensual, mas todos concordam que é necessário um acordo alargado para o pós-troika. Carlos César, ex-Presidente do Governo Regional dos Açores, não exclui um Bloco Central. Já João de Deus Pinheiro, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de Cavaco Silva, diz que um entendimento entre os três partidos do arco da governação é um “dever patriótico”, tal como Alexandre Relvas, ex-mandatário presidencial de Cavaco, que lembra a “dimensão patriótica” desta solução.

Para Eduardo Catroga, ex-ministro das Finanças, um acordo entre os três partidos “seria o melhor programa cautelar pós-troika”. Mais céptico, Ângelo Correia, antigo dirigente do PSD, diz que os partidos só mesmo “por necessidade” se entenderão e isso só acontecerá depois das legislativas.

‘Não comerciar valores’ do PS

A pressão para um acordo entre os três partidos depois da saída da troika, a 17 de Maio, é cada vez maior com o Presidente da República, Cavaco Silva, e o Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, à cabeça. Mas o PS já preparou terreno para uma recusa, alegando “divergências insanávais”.

No entanto, o socialista Carlos César defende que o PS não pode “deixar a cadeira vazia”, mas também “não deve sentar-se para comerciar os seus valores”. Para Carlos César, “o limite que o PS deve impor é o não agravamento de injustiças e a diminuição dos desequilíbrios gerados por este Governo”. Por isso, recusa uma reforma da Constituição, defendida por PSD e CDS. “O PS não se deve comprometer com nada que não tenha a ver com o seu código genético”, frisa.

O ex-Presidente dos Açores acredita que depois das legislativas de 2015 será necessário um consenso forte que inclua os partidos eleitoralmente dominantes. Sem uma maioria absoluta do PS – que seria a melhor solução –, e com “um obstáculo à esquerda”, devido às recusas de BE e PCP em formar governo, César defende que o PS “deverá procurar uma plataforma de comprometimento com o PSD para obter um governo sólido”.

O socialista não exclui um Governo de Bloco Central com o predomínio do centro-esquerda, mas lembra que pode haver outro tipo de acordos. Sem os centristas. “O CDS tem um jogo de ocasião e taticismo que pode trazer mais ou menos votos nas eleições mas não se configura como um partido de resposta central no futuro do país”, considera.

Dever patriótico

À direita, as personalidades ouvidas pelo SOL não excluem aquele que tem sido o parceiro mais lógico nos últimos governos de coligação, o CDS.

Alexandre Relvas defende um diálogo profundo entre os três partidos, mas também com os parceiros sociais. E sublinha a “dimensão patriótica de um entendimento”.

Recusa um programa comum aos partidos, mas considera que tem que haver um “entendimento mínimo” em matérias como a estratégia orçamental, uma agenda para o emprego e crescimento, um programa contra a pobreza e a redução de desigualdades. “O consenso político e a concertação social têm que ser mais valorizados do que têm sido até agora”, conclui.

Também João de Deus Pinheiro afirma que é um “dever patriótico” um acordo em que têm que estar representados o PS, PSD e CDS. Quanto ao tipo de governo, para o ex-ministro de Cavaco não é fundamental saber quem o vai liderar, mas antes que estejam alinhados nos objectivos estratégicos para o futuro do país.

O interesse nacional num acordo entre os partidos também é destacado por Eduardo Catroga. Mas o homem que chefiou a delegação do PSD para negociar o Orçamento do Estado para 2011 diz ver demasiada “crispação” entre os agentes políticos, contrária a um entendimento.

Qualquer que seja o resultado das eleições de 2015, que não acredita que seja uma maioria absoluta, Catroga afirma que os três partidos que assinaram o acordo com a troika “deviam comprometer-se a apoiar, na Assembleia, as medidas que são exigidas pelos credores em coerência com os compromissos que os três já tomaram”.

Ângelo Correia também não acredita numa maioria absoluta e diz que um acordo só será possível depois das legislativas. “É mais natural que haja um acordo só dois ou três meses depois das eleições. Nessa altura já vão estar em estado de necessidade. E só por necessidade é que se fazem as coisas”, vaticina. O ex-dirigente laranja defende um entendimento de “espectro alargado”, mas diz que um acordo entre os três partidos será mais difícil.

sonia.cerdeira@sol.pt