Luxo artesanal à prova de imitações

“Estão a ver este móvel?”, pergunta Manuel Ferreira apontando para a fotografia de um aparador de sala de jantar numa revista de decoração. “É isto que eu quero fazer num futuro próximo”. A particularidade da peça é o preço – 160 mil euros – e o facto de estar à venda não em lojas de…

A Larforma, a empresa que se propõe produzir com este nível de qualidade, nasceu em 1980, e logo com uma tendência inovadora no mercado da decoração de interiores: a construção de mobiliário feito por medida. “Começámos a ser procurados principalmente por designers e arquitectos, que querem peças muito específicas nos seus projectos”, conta o mentor. Os materiais usados dependem de cada cliente e vão da madeira ao couro, passando pelas lacagens, inox, bronze e cerâmica.

Para Manuel tudo é possível. “Quando alguém chega aqui e me diz que é impossível fazer alguma coisa, eu tento arranjar uma solução – e, para já, tudo foi possível. Por isso combinamos alguns materiais que poderiam parecer tecni- camente incompatíveis. É claro que temos os nossos segredos bem guardados, para evitar imitações”.

De forma a aliar a excelência do design à qualidade do detalhe e acabamentos, Manuel Ferreira prefere trabalhar “com artesãos à moda antiga, que dão atenção aos detalhes e personalizam as peças com sensibilidade”. E aponta como a sua principal mais-valia as costureiras, estofadores, marceneiros, pintores e o escultor de fundição com quem colabora. “Trabalhar certos materiais não é nada fácil e apenas a experiência dá esse conhecimento. O que me assusta é que tudo se está a industrializar e todas estas profissões estão a morrer. A maior parte das pessoas que aqui trabalham está cá há muitos anos e todos são fundamentais nos processos de fabrico”. Além daqueles que trabalham na fábrica, é frequente recorrer a artesãos da zona: “Trabalho há muitos anos em parceria com oficinas de confiança de Vila Nova de Gaia, quando não consigo dar resposta com a minha própria estrutura. Aliás, uma das minhas prioridades é recorrer sempre à mão-de-obra local. Enquanto isso for possível, não saio de Gaia”.

Nascido e criado em Vila Nova de Gaia, Manuel Ferreira é um típico self-made man. Começou a trabalhar aos 12 anos, como aprendiz de estofador. “Na altura trabalhávamos de segunda a sábado. Só folgávamos ao domingo. Era cansativo e foi uma alegria quando apareceu a ‘semana inglesa’. Ganhámos a tarde de sábado de folga. Nem queríamos acreditar”. Hoje com 63 anos, está a tirar a licenciatura de Marketing no IPAM (Instituto Português de Administração de Marketing), porque, apesar dos seus cerca de 50 anos de experiência, acha que nunca se sabe tudo: “Sempre percebi que temos de estar abertos a aprender. Temos de ter essa humildade. Lembro-me perfeitamente quando aos 18 anos decidi ir trabalhar para o Porto, mesmo tendo um salário mais baixo do que o que ganhava em Gaia. Tinha noção que aquela experiência era fundamental para o meu crescimento na profissão. Depois, quando me casei, comecei a trabalhar por conta própria como estofador, numa oficina na parte de trás de minha casa”.

Foi na sua primeira viagem a uma feira de mobiliário de Milão que pressentiu o potencial deste negócio e se sentiu inspirado a ir mais longe. Recentemente percebeu que as novas tecnologias vieram abrir-lhe as portas para o resto do mundo: “Quando começámos, as nossas encomendas vinham apenas do mercado português. Hoje, com a internet estamos em todo o lado. Trabalho com alemães, russos, suíços… Lá fora adoram a maneira como trabalhamos em Portugal”.

Conquistado o mercado internacional, Manuel Ferreira tem um novo projecto na manga, com data marcada para Abril: o lançamento de uma marca própria, a Porto Work. “Temos trabalhado com outras marcas e chegou finalmente o momento de assinarmos o que fazemos. A Porto Work será lançada em Abril e terá presença em locais muito específicos. O nosso target é o consumidor final, uma classe média-alta que está disposta a pagar pela qualidade dos materiais e do design”. Um dos parceiros da Larforma neste novo projecto será a italiana Loro Piano, uma das mais prestigiadas marcas no sector da moda, que fornecerá à empresa portuguesa os tecidos para algumas das peças de mobiliário. “Foi a Loro Piano que nos escolheu e não nós a eles. Conheceu-nos através de outros projectos e quando souberam da Porto Work sugeriram uma parceria”, revela o empresário. “Para ter uma ideia do nível em que trabalham, quando um cliente lhes encomenda um fato, vão buscá-lo de avião onde ele estiver, levam-no até às suas instalações em Itália, tiram lá as medidas e produzem o fato em dois dias. Depois voltam a levar o cliente e o fato à sua casa. Como imagina, quando quiseram trabalhar connosco foi uma grande conquista”.

A colecção Porto Work estará presente no mercado através dos parceiros da Larforma e das vendas online. A fasquia está elevada: “A Porto Work vai contribuir para a revitalização dos negócios dos nossos parceiros e do sector da decoração em Portugal”.

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