Olhando para trás, percebe-se que a vida de hoje nada tem a ver com a de então. Podemos beber Coca-Cola, comprar fraldas descartáveis, usar isqueiro sem ter uma licença especial, jogar à bola na rua sem fugir da Polícia, embora agora se fuja de outra coisa, ir até ao Porto em menos de duas horas e meia (na altura demorava-se perto de oito horas).
Nos hospitais, regra geral, não se amontoam pessoas nos corredores – sim, ainda há locais onde isso acontece, mas nada tem a ver com o que se passava -, a mortalidade infantil baixou brutalmente, o ensino superior abriu-se a milhares e milhares de alunos, o país cresceu, estando verdadeiramente ligado por estradas que encurtam os espaços. Faltam os comboios, é certo, mas é a vida. Vem esta conversa toda a propósito dos comentários trogloditas de alguns que dizem que “é preciso outro 25 de Abril” para que o país se torne mais justo.
Calculo que as eleições não se enquadrem nesses espíritos mais revolucionários, pois de acordo com tais mentes, enquanto não existir uma ditadura militar e de pensamento há sempre a possibilidade de a maioria da população escolher livremente os líderes do seu país. O que, como sabemos, não é tolerável para aqueles que se acham os donos da verdade e do país. Tenham sido capitães de Abril ou governantes no passado.
P. S. 40 anos depois da queda do regime totalitário, há quem ainda não perceba que mesmo no Estado Novo havia coisas boas. É ridículo querer resumir tudo ao fascismo e esquecer que o país não tem apenas 40 anos. Se assim fosse estaríamos onde estamos?
vitor.rainho@sol.pt