Cantou-se Zeca Afonso na Assembleia

“Aqueles que ficaram/ (Em toda a parte todo o mundo tem)/ Em sonhos me visitaram/ Traz outro amigo também”, as vozes do coro infantil do Conservatório Nacional abriram portas à celebração dos 40 anos da Liberdade cantando Zeca Afonso na Assembleia da República.

O hino nacional tocado pela Banda da GNR foi ouvido de pé pelos presentes na cerimónia. Na audiência, a presença mais notada foi a de um Durão Barroso de gravata vermelha que, pela primeira vez enquanto Presidente da Comissão Europeia, assistiu a esta sessão solene. Tomou lugar na galeria onde se sentaram os ex-Presidentes da República, Ramalho Eanes e Jorge Sampaio.

Cravos no púlpito e na Mesa da Presidência da Assembleia, a decoração esteve a rigor também nas lapelas de alguns deputados e membros do Governo. Passos Coelho não dispensou o cravo, ao contrário de Paulo Portas. À direita raros foram os deputados a usar o cravo na lapela, uma regra entre os deputados da esquerda que, muitos deles, também adoptaram a gravata vermelha.

As flores foram oferta da empresa “Flores do Montijo” que, nas escadarias de acesso das altas figuras do Estado e convidados às galerias e também na porta de entrada, os davam a quem os quisesse levar.

No plenário, os discursos começaram pela oposição, com o partido mais pequeno à cabeça: falaram os Verdes, seguido do BE, PCP, PS, CDS e PSD. Os socialistas escolheram o líder António José Seguro para tomar da palavra no 25 de Abril, o que não costuma acontecer, dando um sinal político à maioria.

A Presidente da República, Assunção Esteves, também discursou e ao mesmo tempo Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril, criticava o Governo, no Largo do Carmo. Os capitães de Abril estiveram ausentes da sessão solene, no Parlamento, mas todos os partidos os mencionaram. À esquerda para enaltecerem o seu papel na Revolução, à direita para lembrarem que não há donos do 25 de Abril.

A sessão solene foi encerrada por um discurso duro do Presidente da República. Cavaco Silva recusou a “política de vistas curtas” para renovar o apelo ao consenso, a poucas semanas da saída da troika de Portugal.

Com os discursos encerrados, o Primeiro-Ministro aproveitou para ver a exposição que está presente nos Passos Perdidos da Assembleia da República sobre o 25 de Abril. Seguido de perto por Durão Barroso, Cavaco Silva e Assunção Esteves. Mais distante, seguia o ex-Primeiro-Ministro, Pedro Santana Lopes. Rumo ao exterior, os convidados foram brindados por cantares alentejanos, pelo Grupo Coral de Grândola.

Finda a cerimónia e todos os protocolos, também houve espaço para algum convívio. No bar da Assembleia da República, em duas mesas juntas, estavam alguns deputados do PSD à conversa com o ex-líder laranja, Marques Mendes, e o ministro da Economia, António Pires de Lima.

sonia.cerdeira@sol.pt