“É tempo de abandonarmos a política de vistas curtas, ditada pelo tacticismo e pelos interesses de ocasião”, afirmou Cavaco Silva, durante a sessão solene de comemoração dos 40 anos do 25 de Abril.
Cavaco Silva tem vindo, nos seus últimos discursos, a apelar a um consenso entre os partidos políticos e aproveitou o simbolismo da data para intensificar esse apelo. “Ao fazer uma retrospectiva destas quatro décadas, facilmente concluiremos que só nos aproximámos dos ideais de Abril quando soubemos unir-nos nas opções essenciais”.
Numa altura em que Portugal está a poucas semanas da saída da troika, Cavaco renovou o recado aos partidos do arco da governação – PSD, CDS e PS: “É difícil compreender que numa democracia consolidada, agentes políticos responsáveis não consigam alcançar entendimentos sobre questões essenciais para o nosso futuro colectivo. Temos de acreditar que os obstáculos acabarão por ser ultrapassados”.
Em vários pontos do discurso a maioria aplaudiu o Presidente da República que recusou, uma vez mais, a “crispação” e o “conflito”, frisando que é necessário “um discurso de esperança que mobilize os portugueses para os desafios que temos à nossa frente”.
Contudo, o Presidente da República aproveitou também para deixar alguns recados ao Governo, nomeadamente sobre os sacrifícios impostos à Função Pública, algo que já tinha feito no início da semana. “É legítimo, e porventura urgente, proceder a uma reforma da Administração Pública. Todavia, reformar a Administração não significa fragilizá-la num dos seus aspectos essenciais: a qualidade dos seus recursos humanos”, disse Cavaco, referindo que só com um reforço da qualificação dos trabalhadores do Estado e da “justa recompensa do mérito” se alcança uma Administração Pública “livre da pressão de interesses privados ou do clientelismo político”.
Cavaco frisou também que existem “diversos sinais” que apontam para “um aumento de assimetrias que podem pôr em causa a coesão do país”, nomeadamente as desigualdades da distribuição de rendimentos e a pobreza. E afirmou que o combate ao desemprego tem de ser “uma prioridade da acção política”, com especial atenção ao desemprego de longa duração.