Esses apelos chegam por várias razões: a mãe cujo filho toxicodependente ameaça matar-se, o doente psiquiátrico que quer saber a quantidade de insulina suficiente para morrer, a testemunha que dá conta de alguém que se quer lançar de uma ponte.
Joana Anjos, uma das 12 psicólogas do Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC) do INEM, explicou à agência Lusa que nem sempre é necessário uma deslocação, bastando por vezes um aconselhamento telefónico para travar a situação de crise.
A estes psicólogos — que trabalham 24 horas por dia — chegam chamadas encaminhadas pelos colegas do Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do INEM, que identificam a necessidade de intervenção a nível psicossocial.
Um desses casos foi o de uma mãe que ligou para o 112 porque o filho toxicodependente ameaçava matar-se. A chamada foi encaminhada para o CODU, que identificou necessidade de apoio psicológico.
Enquanto uma ambulância e elementos da polícia se deslocavam ao local, uma psicóloga do INEM manteve-se em linha com a mãe, para averiguar eventuais necessidades de apoio e ajudar aquela mulher a lidar com a situação.
“Muitas vezes recebemos pedidos de ajuda dos cuidadores, que estão no limite”, disse a psicóloga à Lusa, adiantando que através destas chamadas é revelada a difícil história de muitas famílias.
Neste caso, não foi necessário activar o envio de um psicólogo para o terreno, o que aconteceria se o jovem se recusasse a ir ao hospital ou insistisse em tentar matar-se.
No ano passado, das 315 saídas de psicólogos, 85 foram para tentativas de suicídio (27%).
Os psicólogos chegam por vezes a ter de negociar com os potenciais suicidas a aceitação de ajuda.
“O objectivo destas pessoas é acabar com o sofrimento e não a morte em si. Vivem uma ambivalência”.
Até ao momento, todas as intervenções no terreno, em caso de tentativas de suicídio, têm sido bem-sucedidas: “Não podemos falhar. Nunca abandonamos a pessoa em risco”.
Contudo, as deslocações mais frequentes são as que envolvem morte inesperada, com familiares ou amigos no local. No ano passado, registaram-se 152 (48% do total).
Entre estas, estão alguns casos mediáticos como a tragédia com estudantes na Praia do Meco, o acidente que há seis anos vitimou 17 pessoas da universidade sénior de Castelo Branco na A23, a morte de pescadores de Caxinas ou a queda de um muro junto à Universidade do Minho.
Para estas tragédias, não basta ser-se psicólogo. Por isso, estes profissionais do INEM têm uma formação específica em intervenção psicológica em crise, emergências psicológicas e intervenção psicossocial em catástrofe.
No momento de apoiar um familiar ou amigo que presencia uma morte trágica, o grande objectivo dos psicólogos do CAPIC é “minimizar o impacto da situação”.
“O nosso abraço não é físico, embora possa haver toque. Validamos o sofrimento e deixamos chorar”, disse Joana Anjos, para quem as situações mais exigentes são as que envolvem a morte de crianças.
“Uma boa intervenção é quando vamos embora e não fazemos falta”, resume a psicóloga.
Pelo telefone, a equipa do CAPIC intervém noutro tipo de situações, como crises de ansiedade ou ataques de pânico, violação, abuso sexual ou violência doméstica.
Em 2013 registou-se um aumento de 60% de chamadas do CODU encaminhadas para os psicólogos: 5.465 em 2012 e 8.741 no ano passado.
Apesar do número de intervenções presenciais ter também aumentado, em 73% dos casos a situação resolveu-se sem o envio de psicólogos ao local.
Joana Anjos reconhece um aumento global dos pedidos de ajuda, mas não estabelece uma ligação directa com a actual crise, nem identifica um tipo de situação que tenha crescido de forma particular.
A exigência de algumas situações acompanhados pelos médicos e enfermeiros do INEM leva a que os psicólogos prestem também apoio aos próprios colegas.
Sobre os casos mais difíceis, até os psicólogos preferem não falar: “Nem gostamos de nos lembrar deles. Trabalhamos de forma a que eles desapareçam”.
Lusa/SOL