Três anos de troika: Exportações são o novo ‘porta-aviões’ da economia portuguesa

As vendas para o exterior aumentaram 24% desde a entrada da troika e já representam 41% do PIB. Turismo, vinho, calçado e têxtil foram os sectores que mais contribuíram para o crescimento. A inovação e a qualidade são os novos factores de competitividade.

«As exportações estão a ser o porta-aviões da recuperação económica no nosso país». A afirmação foi feita pelo vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, no início deste ano. E os números comprovam-no.

Antes da chegada da troika, as vendas para o exterior de bens e serviços valiam 31,8% do Produto Interno Bruto (PIB). Desde então, aumentaram 24% para 68,3 mil milhões de euros, representando no ano passado 41,2% do PIB.

À medida que as políticas de austeridade foram reduzindo o poder de compra interno, as empresas portuguesas viraram-se para o exterior para conseguirem sobreviver.

Entre 2010 e 2013 houve uma subida de 13% no número de empresas exportadoras de bens, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística. Existem hoje 22.751 sociedades a olhar para fora do país, mais 2.571 do que há três anos.

 

Reforço do turismo

Os serviços tiveram um papel importante na recuperação económica do país. Este segmento representou cerca de 30% do total das exportações portuguesas.

Em 2013 as vendas de serviços para o exterior valeram 20 mil milhões de euros, o que representa um aumento de 17% face a 2010.

Deste valor, 44% foram relativos ao turismo, cujas receitas subiram 7% nos últimos três anos – de 8,6 mil milhões de euros para 9,2 mil milhões. Os franceses são quem gasta mais, seguidos dos britânicos, espanhóis, alemães e angolanos.

O vinho, o têxtil e o calçado foram alguns dos sectores que mais contribuíram para o sucesso do aumento das exportações de bens. Em todos eles há uma característica comum: a aposta na qualidade e na inovação como forma de competir nos mercados internacionais.

O sector vinícola teve razões para brindar durante estes três anos. Em 2012 bateu o recorde de vendas para mercados externos, ao ultrapassar os 700 milhões de euros. Valor que viria a ser superado logo no ano a seguir, para 724 milhões.

 

Crescer a passos largos

Já o calçado e o têxtil avançaram a passos largos no caminho da internacionalização. Pela primeira vez, em 2013 o calçado português chegou a 150 países. Exportou 75 milhões de pares de sapatos, no valor de 1,7 mil milhões de euros – o valor mais elevado de sempre. Os sapatos portugueses competem com os italianos, em termos de design e preço, posicionando-se num patamar elevado da cadeia de valor.

Nos últimos três anos as exportações do sector cresceram 28%, em grande parte devido «ao reforço significativo das vendas para fora da União Europeia» e «ao maior número de empresas a exportar», explicou ao SOL Fortunato Frederico, presidente da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado.

Embora o sector tenha aprofundado a presença nos mercados europeus, outros destinos estiveram também em destaque.  Só para a China, as vendas duplicaram. «Portugal é já o sétimo fornecedor de calçado deste mercado, e está já muito próximo do top cinco».

Quanto ao número de empresas e de trabalhadores, de 2010 a 2013 os números pouco mudaram. Nos últimos três anos as 1.350 unidades e os 35 mil postos de trabalho registaram «uma variação muita ligeira. Houve uma redução muito ténue no número de empresas industriais, mas acréscimo de empresas de outros subsectores», adiantou Fortunato Frederico.

A indústria têxtil, que durante vários anos manteve nas vendas internas a maior parte das receitas, também decidiu fazer as malas.

Antes da intervenção externa, as exportações representavam 3,3 mil milhões de euros. Agora, as vendas para o exterior valem cerca de 4,2 mil milhões e 71,1% do total da produção.

Os produtos refinados também encabeçam o topo dos bens exportados. A Galp assume aqui um papel de destaque, tendo as vendas de combustível sido responsáveis por metade das exportações portuguesas no ano passado. Porém, para vender estes produtos refinados é necessário importar matérias-primas.