Onde antes se afixavam menus para aliciar clientes estão agora outros avisos. No lugar dos cardápios há placas com ‘Vende-se’ ou ‘Aluga-se’. O programa da troika não foi delicado para o sector da restauração, que viu agravar um fenómeno que já vinha de trás: as falências. Nos últimos cinco anos fecharam 8.823 restaurantes. Não resistiram ao aumento do IVA, à nova lei das rendas ou à queda do consumo. Com menos dinheiro no bolso, os consumidores passaram a fazer refeições em casa e a levar marmita para o trabalho.
Em 2010, pouco antes da chegada da troika, havia 78 mil empresas nas áreas de restauração e bebidas em Portugal. Empregavam mais de 235 mil pessoas. E representavam um volume de negócios de 7,46 mil milhões de euros. No final de 2012, a quebra era notória. Menos 2.500 estabelecimentos. Menos 19 mil empregados. Menos 1,4 mil milhões de vendas. Se a comparação for feita com 2008, o início da crise, o cenário piora. Nesse ano, havia quase 85 mil restaurantes no país.
Sobre o ano passado, ainda não há dados fechados pelo INE – apenas informações parciais de insolvências e novas empresas do Instituto dos Registos e do Notariadosão. O director da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), Pedro Carvalho, teme que a conta de subtrair continue. «Manteve-se a tendência de extinção de empresas», lamenta, salientando que «as empresas estão a trabalhar no vermelho, não têm margens e estão a praticar preços insustentáveis para se manterem».
E, frisa, apesar do bom ano turístico, já se nota a sazonalidade. «Desde o final do 3.º trimestre de 2013, fim da época alta, até ao final do 1º trimestre de 2014, o sector e a hotelaria perderam 58.600 empregos», contabiliza. «Em seis meses, o sector despediu, em média, 315 pessoas por dia», deixando-o em mínimos históricos, evidencia.
Ainda que 60% do sector sejam empresários em nome individual, também as grandes empresas sofrem. Na análise Sectores Portugal, da Informa D&B, aos cerca de 30 maiores grupos – que inclui Mcdonald’s, Ibersol, Telepizza e as principais redes de restaurantes no país – conclui-se que as receitas recuaram 26%, para 3,56 mil milhões de euros.
Os perigos das modas
Apesar dos muitos encerramentos, é certo que também têm surgido novos espaços e conceitos inovadores. Padarias, pastelarias, geladarias, hamburguerias estão na moda. O low cost é o novo chamariz. E há locais que conjugam café, mercearia, livraria, cabeleireiro e até loja de bicicletas.
No ano passado já houve mais restaurantes a abrir do que a fechar, segundo dados do Instituto dos Registos e do Notariado. Mas, para já, não compensa.
«Em tempos de crise, o sector da restauração é um escape, uma almofada social para obtenção de um rendimento», aponta Pedro Carvalho, alertando que, por virem de outras áreas, desconhecerem o sector ou irem atrás de modas, muitos empresários acabam por ver os novos negócios «afundar».
«Os negócios que surgem têm uma taxa de mortalidade grande. No comércio essa situação ainda existe mais do que na restauração», reforça o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal. O facto de quase bastar alugar um espaço para abrir uma loja leva muitos desempregados a aventurarem-se, explica João Vieira Lopes.
Nos três anos de troika em Portugal, o responsável indica que o comércio perdeu cem mil postos de trabalho. Há menos 35 mil empresas. Os serviços perderam outros 90 mil. «Tudo o que estava virado para a prestação de serviços ao consumidor e às empresas teve uma quebra bastante grande», frisa. E enumera lavandarias, cabeleireiros, oficinas, postos de combustível, lojas de mobiliário, de electrodomésticos e de vestuário.
«Surgiram alguns negócios mas são marginais na criação de emprego», realça, referindo as lojas gourmet ou a prestação de serviços ao domicílio como cozinhar, fazer limpezas ou lavar carros nas garagens.