14 horas. O Rossio mais parece recinto de um festival de verão. Uma banda de percussão de Badajoz faz animação. Um palco, de frente para o Teatro D. Maria II, mostra imagens em directo de uma televisão portuguesa. Quando a emissão passa para o Rossio, não há quem cale a euforia dos fãs de Ronaldo, Pepe e companhia.
Há ainda quem faça o almoço entre amigos. Há barracas com farturas, bifanas e até de sushi. Mas, entre os adeptos do Real Madrid, comem-se muitas sandes trazidas que casa. Sentar numa esplanada é uma missão impossível. Estão todas cheias. "É para ver se compensamos o desastre que foi o inverno", atira um funcionário de um antigo café da baixa.
Ao lado, na Praça da Figueira, uma DJ com cabelo louro farfalhudo, dá música electrónica aos adeptos enquanto passam imagens de jogos do Real no ecrã gigante que mais tarde vai transmitir o jogo da final da Champions. Bem se podia pensar que estava prestes a começar uma aula de aeróbia. Mas não. Bebe-se cerveja. Cerveja de litro porque na hora de fazer as contas a um fim-de-semana fora de casa tudo pesa. A temperatura não está elevada em Lisboa. O sol é tímido. As casas de banho foram pensadas. São portáteis e umas 10 servem as necessidades dos adeptos.
Enquanto se espera pelo avançar da tarde tudo serve para ocupar o tempo. Tiram-se selfies, liga-se para Espanha para partilhar a festa. Os ‘merengues’ querem o título da décima Liga dos Campeões. Estão todos juntos, de camisolas brancas, à espera do apito do árbitro holandês Bjorn Kuijers.
Nos Restauradores, tiram-se fotos junto dos stands das marcas que patrocinam a Liga. À saída da estação de metro da praça, centenas e centenas de adeptos chegam à superfície com caixas de cerveja e cachecóis do Real Madrid. Ensaiam as vozes para a hora o jogo. Mais acima, junto ao monumento à grande guerra, num estúdio improvisado, a RNE dá conta, em directo para toda a Espanha, do ambiente que se vive na capital portuguesa.
A Avenida da Liberdade é o corredor que separa o Real do Atlético. O trânsito está cortado e há polícias na rua. A feira, que se realiza todos os fins-de-semana na avenida, não mudou de hábito. Está lá para quem quiser comprar chapéus, óculos de sol e até artesanato. Numa destas bancas, uma feirante recebeu 50 euros de um jovem do Cazaquistão, de 17 anos, para usar um pequeno banco que o havia de dar altura suficiente para tirar uma foto a Ronaldo. Negócio é negócio e não é todos os fins-de-semana que se está à frente do hotel que recebe o Real Madrid.
No Parque Eduardo VII aproveita-se a área ajardinada para descansar e almoçar. Estão muitas famílias com crianças com camisolas do Atlético de Madrid. O branco do Real só mesmo entre as riscas vermelhas do Atlético. Lá em cima, no jardim que recebe o nome de Amália Rodrigues, uma enorme tenda abafa a música electrónica e o hino da equipa. As vozes estão mais do que afinadas. E o que interessa mesmo são as horas antes do jogo. Porque é aí que uma e outra equipa podem sonhar com a vitória.
Debaixo da bandeira de Portugal, os adeptos do Atlético aproveitam a vista privilegiada sobre Lisboa. A festa não difere muito da dos adeptos do Real. Os comerciantes, das rulotes às bancas, somam euros como nunca. Os bordados típicos e as toalhas de mesa com o famoso Galo de Barcelos não convencem. Do céu vem a certeza de que não tarda nada mais adeptos se juntarão à festa, depois de aterrarem no aeroporto de Lisboa vindos de Madrid. É anormal o tráfego aéreo nesta tarde de sábado.
O speaker fala por cima da música que sai da cabine do DJ. Recorda que a equipa que todos apoiam e que vai disputar o título de campeão com os merengues joga às 19h45 da hora portuguesa. A diferença horária leva-o a acrescentar as horas espanholas. "20h45, horas de Espaaaaaaaanha". O Atlético tenta em Lisboa vislumbrar, a partir do alto do Eduardo VII, um título que lhe escapou há quarenta anos, ao ser derrotado pelo Bayern de Munique na final. O Real tenta um número redondo a partir da zona nobre da cidade: o décimo título na Liga dos Campeões.