Segundo filho de Makgatho – também ele o segundo rebento do primeiro casamento de Nelson Mandela com Evelyn Mase -, o quarto neto do Nobel da Paz, 31 anos, apresenta-se como empreendedor social e filantropo, e também como conselheiro da ala mais jovem do Congresso Nacional Africano (o partido do seu avô no Governo desde o fim do apartheid, que ia a votos uma vez mais à hora de fecho desta edição). Afinal, tudo fruto dos ensinamentos do homem que 'libertou' a África do Sul: “Pressionava-me para ser o melhor em tudo. 'És meu neto, as atenções estarão centradas em ti', dizia-me. Gostava muito da disciplina e, talvez por isso, punha muita distância entre ele e os seus filhos e netos”, contou ao jornal espanhol El País o jovem que tem algumas semelhanças físicas com o rapper Jay-Z, mas que guarda o carisma do avô, que conheceu quando tinha apenas sete anos, devido à prisão do líder político africano.
Proclamado recentemente um dos '28 icónicos homens da mudança de 2014' pelo canal norte-americano Black Entertainment Telivision (BET), ao lado de nomes como Quincy Jones, Ron Kirk ou Forest Whitaker, Ndaba é o primeiro herdeiro a fazer justiça ao apelido do patriarca do clã Mandela – ao falecido líder da África do Sul sobrevivem duas das suas três mulheres, quatro dos seus seis filhos, 17 netos e 12 dos seus 14 bisnetos, um vasto campo familiar 'minado' por algumas tensões e quezílias. “Isto passa-se quando alguém se casa e se divorcia três vezes. As mulheres querem que os filhos de cada um dos casamentos sejam considerados os legítimos, e essas lutas acabam por passar para os filhos e netos”.
Vice-presidente do Pan African Youth Council, fundador da rede social Mandela.is e presidente da fundação Africa Rising, que criou com o seu primo Kweku Mandela Amuah, em 2009 – e que serve de plataforma a jovens africanos empreendedores -, Ndaba diz que os títulos nada lhe interessam sem uma missão. “A minha? Que os meus compatriotas acreditem finalmente no sonho africano, inspirado por Mandela”, disse também ao El País.
Na sua agenda tem desde programas educacionais em zonas rurais da África do Sul, até campanhas mediáticas com o intuito de pôr o seu país no mapa económico mundial – afinal, a 'marca' Nelson Mandela é a mais reconhecida no mundo a seguir à Coca-Cola. “Somos um mercado com mais de mil milhões de consumidores. Temos a população mais jovem do mundo, com 70% abaixo dos 40 anos. A China procura-nos para investir porque a Europa e a América envelhecem. Como podem negar-me que África está a crescer?”, questionou na mesma entrevista ao jornal espanhol.
Começou por estudar Psicologia, mas o ADN falou mais alto e acabou por se licenciar em Ciências Políticas na Universidade de Pretória. Mas não foi o curso que o embalou a iniciar a sua cruzada africana. Foi uma viagem que fez com o seu avô ao estrangeiro, em 2009. “Só aí me dei conta do pouco ou nada que se sabia dos africanos, do nosso continente, mesmo no meio de gente importante”, referiu ao El País.
Já na apresentação de 'homem icónico' do BET, Ndaba foi mais longe: “Nas minhas viagens, costumam dizer-me: 'És da África do Sul? De que tamanho são os leões?, ao que respondo: 'Oh meu Deus, não sei, não trabalho no zoo'. As pessoas continuam a fazer-me estas perguntas sobre animais, sobre a pobreza, o crime, a sida e sobre todas as outras noções preconcebidas que têm do meu país. Mas África não é apenas um lugar de guerra, de doenças e de ditadores. É o berço da humanidade e não apenas um local para se ir em safari”. E daí que o principal foco da sua fundação Africa Rising seja o de mudar a percepção global que se tem do seu país.
O exemplo do avô ensinou-o a ter “compaixão” e a “não julgar as pessoas pela aparência, mas pelo conteúdo”, mas Ndaba herdou também uma imensa fortuna, hoje gerida unicamente no seio familiar através de negócios de imobiliário, farmácias, transporte ferroviário, moda ou lazer. “Há uma coisa que as pessoas não entendem: no passado muitos quiseram fazer dinheiro à custa do apelido Mandela, deixando de lado a família. Se os estranhos puderam tirar proveito económico do seu nome, nós não podemos? Desde que não desvirtue a mensagem do meu avô, não há problema. Odiaria que Mandela se tornasse o novo Che Guevara, uma t-shirt sem significado”, desabafou ao El País.