Mas o que querem? Um diário (suponho que o DN) pôs-se a perguntar diariamente a escritores (no caso, até verdadeiros escritores, e não figuras com notoriedade que escrevem livros) o que pensam da Feira do Livro, agora mais uma vez a funcionar no Parque Eduardo VII, e as respostas têm sido diversas, e até contraditórias – como é afinal natural.
Pois a minha posição é esta. A Literatura quase desapareceu da Feira do Livro, mesmo da maioria das livrarias, até de muitas editoras, e especialmente das prateleiras de livros dos supermercados. Agora a onda vai pela Literatura Light e, pior, pelos livros escritos (aviados) por figuras com notoriedade (sobretudo televisiva, mas não só). E a velha Literatura, abafada por todo este ruído, desconhecida pelos novos vendedores, praticamente desapareceu.
Sim, vale a pena ir à Feira, sobretudo tentar encontrar nos escaparates ali estendidos pelas editoras velhos livros que não se vêem nas livrarias, nem ninguém lá conhece. Só para isso. E com muito esforço.
E apoio Harold Bloom neste aspecto: a ideia de que a má Literatura, ou os livros imbecis de notáveis, acabam por trazer gente para a Literatura, e acaba assim por ser positiva – não é verdade. Quem gosta de ler porcarias, não sai delas – a não ser por engano.
Como se dizia em casa dos meus pais, ‘gostos não se discutem, mas educam-se’. Só que, como eu vejo junto dos meus numerosos filhos (alguns preferindo ir pela carneirada que os rodeia fora da família), já nem sequer é fácil educar gostos. Isso era quando a mobilidade social se fazia lentamente. Enfim, a Democracia tem outras vantagens, e vale a pena ficarmos com elas – e conformar-nos com a vantagem de ainda termos o nosso próprio gosto diferente. Por muito snob que pareça.