Espera-se que na próxima quinta-feira o Conselho do BCE tome medidas com dois objectivos: evitar a deflação, uma vez que a inflação está muito baixa na zona euro (0,7%, quando o objectivo do BCE aponta para 2%); e descer o câmbio do euro. Este anda por 1 dólar e 36 cêntimos, depois de chegar a quase 1,40; quando começou, há 15 anos, o euro valia 1,17 dólares; mas já esteve em 80 e tal cêntimos de dólar.
No passado dia 8 Draghi prometeu agir na reunião do BCE de 4 de Junho. É preciso que cumpra, porque, ao contrário de há dois anos, agora não chega falar.
Baixar as taxas de juro do BCE, uma medida convencional, não terá grande efeito, pois a taxa de referência já está em 0,25%. Draghi poderá tornar negativos os juros que os bancos recebem pelos seus depósitos no BCE. Poderá ainda o BCE comprar créditos aos bancos e alargar-lhes a oferta de liquidez ou até de crédito a longo prazo. Só que estes estímulos à concessão de crédito bancário e à recuperação económica talvez não sejam suficientes.
Muitos reclamam que o BCE imite a Reserva Federal americana, o Banco de Inglaterra e o banco central do Japão, que compram títulos no mercado, assim injectando liquidez na economia (o chamado quantitative easing, a mais conhecida medida não convencional). O BCE já comprou dívida soberana, mas ‘esterilizou’ essas operações, ou seja, vendeu o equivalente em títulos que tinha em carteira, de modo a não aumentar a massa monetária em circulação. Mas hoje o BCE já não possui muitos títulos. Por outro lado, os alemães detestam aumentos da massa monetária, por temerem que venham a gerar inflação.
Mas, ainda que a Alemanha não vete a criação de dinheiro pelo BCE, há quem duvide da sua eficácia. Por exemplo, Martin Feldstein, professor em Harvard e conselheiro de vários Presidentes americanos, aconselha baixar a taxa de câmbio do euro aí uns 15%, nada menos. O que iria encarecer as importações da Zona Euro, nomeadamente de petróleo, afastando a deflação.
M. Feldstein não acredita, porém, que recorrer ao quantitative easing pelo BCE resolva grande coisa. E dá o exemplo dos Estados Unidos. O dólar está hoje ao mesmo nível cambial a que se encontrava em 2007, antes da crise financeira global.
A Reserva Federal iniciou o quantitative easing há mais de três anos e o dólar manteve-se desde aí relativamente estável – até subiu no ano passado.
O mesmo diz M. Feldstein da inflação nos EUA. O índice de preços no consumidor americano aumentou 1,6% em 2010, subiu um pouco mais nos dois anos seguintes e em 2013 quedou-se por um aumento de 1,5%.
Assim, Feldstein propõe que o BCE entre em força no mercado cambial, vendendo euros em troca de outras divisas. O que, diz ele, faria cair o câmbio do euro, tornando a economia europeia mais competitiva, e afastaria a ameaça da deflação.
Mas ninguém sabe ao certo a eficácia das medidas não convencionais antes de as tomar. Os bancos centrais e sobretudo o BCE navegam em águas pouco conhecidas.