Questionado pelos jornalistas à margem da apresentação de uma biografia hoje lançada em Lisboa sobre si, da autoria de Luís Osório, sobre se ia recorrer da decisão do tribunal de primeira instância no âmbito do processo-crime instaurado pelo Ministério Público, Jardim Gonçalves respondeu afirmativamente.
"Vou. Também fui absolvido. Ninguém fala das absolvições, mas houve matérias que desapareceram e, quando se diz que também ficou a [acusação] da manipulação, não é. Ficou outra espécie de manipulação, já não é de vício mas que é técnica de consolidação das contas, é muito diferente", afirmou o antigo presidente do BCP.
Já sobre as suas expectativas acerca do sucesso deste recurso, Jardim Gonçalves mostrou-se convencido que o Tribunal da Relação de Lisboa lhe vai dar razão.
"Eu estou confiante. Se não estivesse confiante eu não recorria", referiu, garantindo que não se arrepende "de nada" do seu passado, usando a ironia para dizer que não se arrepende "nem de ter nascido".
Já António Rodrigues, antigo administrador financeiro do BCP, também arguido neste processo-crime, revelou hoje à agência Lusa, na mesma ocasião, que a sua equipa de defesa vai avançar com o recurso da decisão das Varas Criminais.
No auditório principal da Universidade Católica de Lisboa, completamente cheio para assistir à apresentação do livro "O poder do silêncio", que traça a biografia de Jardim Gonçalves, muitas eram as figuras públicas que fizeram questão de comparecer.
Entre elas, além do general António Ramalho Eanes, autor do prefácio da biografia, destacavam-se o antigo presidente da Assembleia da República, Almeida Santos, o presidente da Fundação Millennium BCP, Fernando Nogueira, os políticos Freitas do Amaral, Manuela Ferreira Leite, Pina Moura e Manuel Monteiro, e o presidente não executivo da Portugal Telecom (PT), Henrique Granadeiro.
O fundador do BCP, Jardim Gonçalves, foi condenado no início de Maio a uma pena de dois anos de prisão, que fica suspensa mediante o pagamento de 600 mil euros, pelo crime de manipulação de mercado.
Quanto aos restantes arguidos, todos ex-administradores do Banco Comercial Português (BCP), houve decisões diferentes: enquanto Filipe Pinhal e António Rodrigues também foram condenados a penas de prisão de dois anos e a indemnizações de 300 mil euros cada um, Christopher de Beck foi absolvido de todas as acusações.
Os quatro responsáveis foram absolvidos da prática do crime de falsificação de documentos.
A decisão do colectivo de três juízes que julgou o processo-crime no âmbito do chamado caso BCP foi tomada por maioria.
O tribunal condenou ainda os três arguidos considerados culpados a penas acessórias, que passam pelo impedimento de os responsáveis exercerem cargos de administração ou direcção em empresas ou instituições financeiras durante quatro anos.
Lusa/SOL