Revistas femininas: Dividir e reinar

Cristiano Ronaldo e Irina Shayk fotografados por Mario Testino na capa da edição de Junho da Vogue espanhola foram notícia, na semana passada, não só porque ele estava nu, mas porque se achou que a revista da Condé Nast, o mais influente título de moda no mundo, estava a descer uns degraus para conquistar leitores.

A verdade é que, ao contrário do que se poderia imaginar, as revistas mensais femininas não colapsaram com a crise dos últimos seis anos. Muito menos as portuguesas, onde, num mercado mínimo, a Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragens e Circulação (APCT) regista o número de oito revistas mensais femininas.

A crise tem sido mantida à distância, mas como? As duas ideias mais transversais é de que isso tem sido alcançado com a política de brindes de capa e vouchers de descontos para as leitoras, por um lado, e com a identificação precisa do target a que se destinam e do código genético de cada uma das publicações, por outro.
Paula Mateus é a directora da Vogue portuguesa, revista publicada pelo grupo Cofina sob licença da proprietária do título, Condé Nast, desde 2002. Diz que não é política da Vogue portuguesa pôr celebridades na capa – mas já o fez com Catarina Furtado, Bárbara Guimarães ou Nelly Furtado, e tem para Agosto uma «portuguesa muito conhecida que vive no estrangeiro e que fará a capa». São, no entanto, celebridades fotografadas numa produção de moda. 
Com vendas que a situam no fim da tabela, a influência e vitalidade da Vogue não se mede por aí: «Temos estado até acima dos objectivos propostos em termos de circulação. A Vogue não é uma revista para vender muito; é o prestígio e a qualidade que nos permite ter a publicidade que temos». Por tradição, grandes marcas como a Prada ou a Louis Vuitton apostam onde atingem o target de leitoras endinheiradas. E, para Paula Mateus, a Vogue tem características bem marcadas, que são garantidas não só pelas equipas em cada país, mas também pelas linhas orientadoreas da Condé Nast. Por exemplo, nunca a Vogue fará uma edição em formato pequeno ou terá cartões de descontos. 

Nos últimos tempos – diz a directora da revista que carimbou como slogan 'Nada está na moda até que a Vogue o diga' -, as leitoras rejuvenesceram: «O nosso target era 25-45 anos, agora está entre os 18 e os 45».

Formato e brindes

Irmã da Vogue no grupo Cofina, a Máxima foi a primeira revista deste tipo a nascer, há 26 anos, e sabe muito bem quem é. A directora, Sofia Lucas, admite que, «a médio prazo, pode não haver lugar para todas as revistas», por isso esta publicação tem vindo «de há um ano para cá a afinar a estratégia de aproximação às leitoras».
Reinventar-se, falar de emoções e libertar-se do peso excessivo da moda são os objectivos. Por exemplo, na última edição, a Máxima põe na capa modelos negras de três gerações. Não se limita a explorar a beleza das suas figuras. «Fala-se de racismo e de como foi difícil vingarem num mundo que não aceitava a diferença», diz Sofia Lucas. 

Já a Lux Woman – agora propriedade da empresa de capital angolano Masemba – adaptou-se «mais do que à crise, a uma nova conjuntura económica e social», segundo a directora, Rita Machado. É uma revista para «a mulher portuguesa com atitude e para a mulher internacional que fala português», numa faixa etária entre os 18 e os 45.  Tal como a Elle ou a Máxima, também tem um formato reduzido, mais barato, faz brindes de capa e «aposta na grande interactividade nas redes sociais, onde há passatempos diários». Não oferece cartões de desconto aos leitores. 

A Happy Woman, líder incontestada de mercado, propriedade da pequena Baleska Press, ficou conhecida pela aposta nos cartões de desconto – quando foi criada, em 2006 – e também pelos seus temas de capa sobre sexo e por sugestões de compras para um segmento com um poder de compra médio.

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