Um defesa nascido no Barreiro que veste a camisola da Holanda, um avançado que veio ao mundo capital do Uzbequistão (Tashkent) a representar a Nigéria, ou dois kosovares que actuam pela Suíça. Bruno Martins Indi, Odemwingie, Behrami e Shakiri, os nomes em questão, são apenas alguns exemplos de um Campeonato do Mundo que não está confinado aos naturais dos 32 países que se qualificaram para a fase final.
Provavelmente como consequência da globalização que tem permitido uma maior mobilidade das populações – além daqueles que nasceram em antigas colónias ou dos refugiados de conflitos diversos –, poucas são as selecções que estarão no Brasil só com atletas nascidos no seu próprio território.
Sem surpresa, uma delas é a selecção anfitriã, cuja base de recrutamento é gigantesca. E depois sobram apenas mais cinco que encontram em casa tudo aquilo que precisam: Colômbia, Equador, Honduras, Rússia e Coreia do Sul.
Nascido em alto mar
Já nas restantes equipas é possível encontrar naturais de mais 18 países que não se qualificaram para o Mundial-2014 e um caso único: o de Rio Mavuba.
Filho de uma angolana e de um antigo jogador zairense (agora congolês) que esteve na única participação do país em Mundiais (1974), o internacional francês veio ao mundo a bordo de um barco (daí o nome próprio) enquanto os pais fugiam da guerra civil de Angola. Na sua certidão de nascimento consta essa informação: nascido no mar.
Refugiado em França, foi um apátrida até aos 20 anos, momento em que se tornou cidadão francês.
Entre os 18 países não qualificados, o destaque vai para a Noruega, com três jogadores nascidos em Oslo, divididos por outras tantas selecções: Estados Unidos (Diskerud), Gana (Kwarasey) e Costa do Marfim (Bolly).
Cabo Verde terá dois filhos da terra no Brasil (Nani por Portugal e Gelson Fernandes pela Suíça, ambos com passagem pelo Sporting), sendo o PALOP mais representado. Angola, através de William Carvalho, e a Guiné-Bissau, com Éder, ambos da Selecção portuguesa, também marcam a sua capacidade de criar bons jogadores.
Já nações com grande tradição no Mundial vão ter de se limitar a torcer por aqueles que preferiram vestir outra camisola. Como a Suécia, com 11 participações em fases finais, que só tem o chileno Albornoz, natural de Estocolmo. Ou a República Checa, que esteve já em nove campeonatos e agora só tem o grego Vyntra para a representar, um ‘filho’ da cidade de Mesto Albrechtice. Ou ainda a Polónia, sete vezes presente, que terá de se virar para a vizinha Alemanha e apoiar Klose e Podolski, nascidos em Opole e Gliwice.
França ‘fornece’ duas selecções completas
Como tem sucedido nas últimas edições, haverá brasileiros em vários dos países qualificados. Além da selecção canarinha, outras quatro equipas vão apresentar futebolistas nascidos em terras de Vera Cruz: dois na Croácia (o carioca Eduardo e Sammir, natural de Itabuna), um em Portugal (Pepe, de Maceió), outros em Itália (Thiago Motta, criado em São Bernardo) e mais outro em Espanha (Diego Costa, um homem de Lagarto, no estado de Sergipe).
Ainda assim, não são mais os brasileiros do que os nascidos na Alemanha. Há outras seis selecções com jogadores nascidos em solo germânico, com o caso mais curioso a ser o dos irmãos Boateng: Jérôme, do Bayern Munique, escolheu actuar pelo país de nascimento, ao passo que Kevin-Prince preferiu o Gana, de onde é originária a família.
E quis o destino que, depois de se terem defrontado há quatro anos na África do Sul, na primeira vez em que dois irmãos estiveram frente-a-frente num Mundial, voltassem a cruzar-se em campo no Brasil: Alemanha e Gana integram o grupo de Portugal e medem forças no dia 21 de Junho, em Fortaleza.
Ao todo, estarão em prova 33 jogadores nascidos em território alemão, contra 28 no Brasil. Mas nesse capítulo ninguém bate os naturais de França: davam para completar duas listas de convocados, com 46 representantes.
O maior contigente vai alinhar pela Argélia, que ‘adoptou’ 16. Opaís do Norte de África é o que leva menos jogadores nascidos dentro das suas fronteiras. São apenas sete, incluindo o sportinguista Slimani e o academista Halliche, ambos da capital Argel. Já o portista Ghilas respirou o seu primeiro ar em Marselha.