Crise iraquiana pode juntar EUA e Irão

O exército dos Estados Unidos pode estar perto de regressar ao Iraque, com o Secretário de Estado John Kerry a admitir intervir face à “ameaça existencial” do país, representada por nova guerra sectária iniciada pelo Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL, na sigla inglesa).

Crise iraquiana pode juntar EUA e Irão

Os militantes sunitas passaram o fim-de-semana a publicar no Twitter as imagens das execuções colectivas dos soldados capturados durante a chegada do grupo às cidades de Mossul, Tikrit, Faluja e Ramadi. Todos xiitas, de acordo com o comunicado do líder do ISIL Abu Bakr al-Baghdadi. E de legendas como “este é o destino dos xiitas de Maliki”, numa alusão ao primeiro-ministro Nouri al-Maliki, ou “os porcos xiitas são mortos às centenas”.

O ISIL, grupo que até há pouco tempo tinha fortes ligações à Al-Qaeda, garante que mais de 1.700 soldados xiitas foram executados nos últimos dias. Um número não confirmado nem pelo Governo iraquiano nem pelas ONG’s presentes no país. “Sejam quem for e quantos mortos, é uma óbvia tentativa de reiniciar a guerra sectária”, disse ao New York Times o ex-embaixador norte-americano em Bagdade, Ryan C. Crocker.

O cenário de uma guerra civil de larga escala foi também alimentado pelo líder máximo dos muçulmanos xiitas no Iraque, o grande aiatola Ali al-Sistani. O clérigo apelou à resistência armada da maioria xiita iraquiana num momento em que os militantes sunitas ameaçam continuar a marchar para Sul, a caminho de Bagdade.

No sábado, o aiatola mudou de tom e apelou “o máximo de contenção possível” aos crentes xiitas. Mas Abu Bakr al-Zubaidi, líder de um dos grupos extermistas de crença xiita que em 2006 foram acusados de matar mais de 1000 civis por semana, já garantiu: “A nossa resposta será não haver um único prisioneiro do ISIL vivo”.

Um cenário que já levou o chefe da diplomacia norte-americana a reconhecer a necessidade de regressar ao país que George W. Bush invadiu em 2003. “Quando há pessoas a assassinar e a massacrar outras, temos de parar isso. E faz-se o que se tem a fazer para o parar, seja através de ataques aéreos ou de outra forma qualquer”, disse John Kerry, reiterando a vontade de ajudar o primeiro-ministro Maliki e a população xiita do Iraque.

Um objectivo partilhado com o Irão e que pode resultar na primeira aliança entre os dois países desde a Revolução Islâmica de 1979 em Teerão. “Não afasto nenhum cenário construtivo”, garantiu Kerry.

nuno.e.lima@sol.pt