Engenheira agrícola, virou-se para a nova profissão quando o marido a abandonou – e deixou exclusivamente a seu cargo a educação dos três filhos. Nour não conseguia arranjar emprego. Decidiu comprar um carro e contratou um condutor. Mas o empregado revelou-se pouco fiável, pelo que a egípcia deitou ela própria mãos ao volante.
Aos 45 anos revela, em declarações ao Guardian, que ainda se depara com quem lhe aponte o dedo, numa expressão de espanto, e exclame o óbvio: “Uma mulher taxista!”. Mas agora, ao contrário do que aconteceu no início, já não sente vergonha. E quer que estas exclamações se multipliquem: pretende fundar uma academia para formar 100 mulheres taxistas num ano, com disciplinas que passam por lições de inglês, manutenção e técnicas de condução. Falta-lhe apenas um mecenas. “Quero criar um centro para que as mulheres não passem as dificuldades por que eu passei. E para que a sociedade aceite que as mulheres exerçam uma profissão ‘masculina’ e que possam até ser melhores nela do que os homens”, acrescentou.
Quando começou, Nour teve a sorte de transportar um cliente que a fez correr as caóticas ruas do Cairo quase de uma ponta à outra da cidade – e que lhe elogiou a perícia no final da corrida. Foi um bom empurrão. Descobriu também um nicho de mercado: as passageiras que se queixam de assédio por parte de motoristas homens. São sobretudo elas, famílias e organizações de defesa dos direitos humanos (como a Amnistia Internacional) que a contratam para serviços, apesar de a taxista reconhecer que ainda lhe acontece um cliente mandar parar e, ao ver que é uma mulher quem está ao volante, a mandar seguir. Nada que a faça desistir.
No fim do turno bebe um café com os colegas, todos homens, que já se habituaram à presença feminina. “As mulheres em casa não sabem nada do que se passa no mundo lá fora. Mas se elas saírem e trabalharem nos táxis, vão saber mais, perceber de mecânica, das estradas e conhecer melhor as ideias das pessoas”, defende. Sendo o Egipto um país onde, segundo as Nações Unidas, apenas 23,7% das mulheres trabalham (contra 74,3% dos homens), poderia ser um bom começo. Há revoluções que começam assim.