Aqui o dilema é reduzir desde já o uso de combustíveis fósseis (com custos para eléctricas, minas e algumas indústrias) para atacar o aquecimento global, um fenómeno cujos efeitos mais dramáticos estão distantes por décadas. Mas o ponto é muito mais geral. Explica, por exemplo, a dificuldade de conduzir reformas profundas em democracias.
Estas, frequentemente, impõem sacrifícios contemporâneos a certos grupos (usualmente muito vocais), a troco de uma promessa de ganhos futuro partilhados pela generalidade da sociedade. Outro exemplo são os défices e a acumulação de dívida pública. Com eles, basicamente, as gerações actuais estão a passar a factura do seu excesso de consumo para os seus filhos, netos e bisnetos pagarem.
Menos óbvio é que esta reflexão também é relevante para o conceito igualdade que está no centro da actual polémica constitucional. Muito se tem dito sobre o assunto. Normalmente enfatiza-se e bem, na minha opinião, que ‘igualdade’ não pode ter um valor absoluto, deve ser argumentada com prudência, deve ater-se a valores fundamentais e ser entendida de uma forma ex-ante e não ex-post.
Menos enfatizado tem sido o papel da Constituição como garante dos direitos das gerações futuras, que estão naturalmente sub-representadas em qualquer democracia. E este é, também, um argumento de igualdade: igualdade entre gerações. Com ele queremos assegurar que as gerações futuras não são privadas de direitos que foram concedidos à geração actual ( e dos quais esta frequentemente abusou).
Este é um argumento poderoso para justificar a preservação das espécies, da natureza e do ar puro. Mas é um argumento poderoso para defender medidas que assegurem sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde, da Segurança Social ou do acesso à educação. Para que exista mais igualdade entre os que hoje votam e todos aqueles que só o farão no futuro.