Kerry no Iraque para pressionar Maliki

Na mesma sala onde George W. Bush foi agredido com um sapato de um jornalista iraquiano, em 2008, John Kerry reuniu-se hoje com o primeiro-ministro Nouri al-Maliki para tentar que o Governo de Bagdade alivie as tensões sectárias no país num momento em que os terroristas sunitas acumulam vitória no Norte.

Kerry no Iraque para pressionar Maliki

Segundo informações do gabinete de Maliki, o iraquiano terá pedido a John Kerry o início de ataques aéreos norte-americanos contra bases do ISIL (sigla inglesa do grupo do Estado Islâmico do Iraque e Levante) no Norte e Noroeste do país. 

Mas os EUA temem que o regresso dos seus aviões ao Iraque seja encarado como uma tomada de posição de Washington na luta entre sunitas e xiitas na região, um passo que poderia ter grandes implicações na relação com o principal aliado regional, a Arábia Saudita.

A mensagem que John Kerry terá deixado à liderança xiita de Bagdade é a de que tem de ser esta a fazer o possível para apaziguar as relações internas tanto com os sunitas como com os curdos. E nada melhor do que a formação da coligação governamental que está a ser discutida desde a votação de 30 de Abril, que deu a terceira vitória consecutiva a Maliki mas deixou a sua coligação xiita aquém da maioria de 163 deputados.

Na impossibilidade de Maliki se unir a facções que agora o combatem – o primeiro-ministro é acusado de ter alimentado o regresso da tensão sectária ao país com uma liderança que protege xiitas e exclui os rivais e, desde que se iniciou a revolta do ISIS já ordenou a execução de dezenas de prisioneiros sunitas encarcerados em prisões iraquianas – os apelos à demissão do primeiro-ministro já chegam de dentro da comunidade xiita. Sem criticar directamente Maliki, o aiatola Ali al-Sistani, principal líder religioso dos xiitas iraquianos, pediu a formação de um “Governo eficaz”.

ISIL avança

As conversas prosseguem em Bagdade ao ritmo a que a violência se expande no Norte. Pelo menos 71 prisioneiros e 5 militares foram mortos quando uma coluna que transportava detidos sunitas foi atacada por um grupo armado, alegadamente do ISIL. As forças de segurança optaram por executar os detidos, não dando hipóteses de fuga. Cinco militares e cinco membros do grupo atacante também foram vítimas do combate que se deu nos arredores de Bagdade.

Durante o fim-de-semana, os terroristas sunitas aumentaram o seu controlo na região de Anbar, com a captura das cidade de Qaim, Rutba, Rawa e Anah. O ISIL passou também a controlar dois postos fronteiriços, um com a Síria e outro com a Jordânia, o que facilitará a tarefa de transportar armas e soldados.

Outra conquista estratégica poderá estar prestes a consumar-se junto à cidade de Haditha, com a tomada de uma barragem que em caso de ataque pode perturbar significativamente o abastecimento de energia na região.

nuno.e.lima@sol.pt