Discurso de Duarte Lima ‘não é lógico’, diz juíza

“Não é lógico” que Rosalina Ribeiro tenha pago antecipadamente 5,2 milhões de euros de honorários como advogado, como afirma Duarte Lima. A juíza Cláudia Pina expressou assim as suas sérias dúvidas quanto à justificação que este apresentou para o pagamento feito pela sua antiga cliente, durante o seu segundo interrogatório, esta manhã, no 5º Juízo Criminal…

Discurso de Duarte Lima ‘não é lógico’, diz juíza

“O que me espanta é que lhe pague à cabeça mais de um terço do que lhe caberia a ela da herança. Isso nunca aconteceu”, reforçou a magistrada, lembrando que a parte da herança de Tomé Feteira a que Rosalina Ribeiro teria direito seria cerca de 15 milhões de euros.

Depois de Duarte Lima ter respondido que os 5,2 milhões de euros que recebeu tinham origem numa conta de Rosalina no UBS da Suíça, por sua vez alimentada com uma transferência de dinheiro de uma conta conjunta que esta tinha com Feteira no mesmo banco, a juíza questionou: “Não seria mais lógico que, sabendo que havia uma disputa dos familiares pela herança e que portanto corria o risco de ser alvo de um arresto, Rosalina Ribeiro tenha feito essa transferência para si, mas colocando-o como fiel depositário dos 5,2 milhões?”. O advogado respondeu que não, reiterando que a quantia referia-se a honorários como advogado e que a quantia fora decidida por Rosalina.

O mistério da procuração

Quanto a uma procuração que Lima diz que a antiga companheira de Tomé Feteira lhe terá passado “em Janeiro 2001”, o arguido disse que os seus advogados no Brasil é que a têm e juntarão ao processo neste país. 

Como aqui, em Portugal, só entregou ao tribunal substabelecimentos de Normando Marques (advogado brasileiro de Rosalina), delegando poderes nele e no colega Valentim Rodrigues, para o representar apenas na audição de testemunhas num tribunal de Lisboa, a juíza insistiu em saber como tudo se processou. Duarte Lima explicou que ele “coordenava” o trabalho e que Valentim Rodrigues era o advogado que aparecia no tribunal e assinava as peças processuais. A juíza perguntou se não era possível Valentim escrever estas peças sozinho, ao que Lima respondeu que se sentavam os dois ao computador, a escrever. “E o dr. Valentim também recebeu 5 milhões de honorários, já que fez 50% do trabalho?” – quis saber Cláudia Pina. Duarte Lima respondeu: “Não sei”.

Instado a esclarecer se declarou os 5,2 milhões de euros ao Fisco, o advogado respondeu apenas que “todo o dinheiro devido foi regularizado” e escusou-se a dar mais pormenores, alegando que essa matéria está em segredo de Justiça num inquérito no DCIAP (aberto na sequência de uma queixa da filha de Tomé Feteira).

Tapetes e telefonemas

Duarte Lima foi ainda confrontado com perguntas que ficaram por fazer no primeiro interrogatório, a 16 de Maio. 
Sobre o facto de ter devolvido o carro que usou na sua estada no Brasil (em Dezembro de 2009, na altura em que Rosalina foi assassinada) lavado e sem o tapete do lugar ao lado condutor, sustentou que a Polícia brasileira mente. E disse que a rent-a-car só “quatro meses depois” é que veio exigir-lhe o pagamento, mas de um jogo completo de tapetes, pois quando entregou a viatura ninguém lhe fez nenhum reparo.

Negou ainda ter feito o telefonema para uma loja de armas, registado na conta do quarto (que pagou) do hotel em que ficou alojado, em Belo Horizonte. 

Finalmente, confirmou que usou três dos telemóveis registados pelas autoridades brasileiras, um dos quais pré-pago, tendo negado que usou um telefone com cartão suíço (que lhe fora cedido pelos dirigentes da rede Monte Branco, de fuga ao Fisco, para comunicarem entre si).

felicia.cabrita@sol.pt