Sendo menos, foram mais produtivos os trabalhadores em Portugal? É um lugar-comum, mas é verdade, dizer que o nível de riqueza do país depende da produtividade, em particular daquela que mais influencia a capacidade concorrencial com empresas de outras nações. Também se repete, com razão, que melhorar a produtividade, no essencial, não resulta de os trabalhadores se esforçarem mais, mas das condições em que operam. E dá-se o exemplo dos emigrantes portugueses, que, noutros enquadramentos, alcançam altas produtividades.
Os trabalhadores portugueses são agora mais qualificados; mas continuamos na cauda da zona euro. Em 2013 apenas 40% da população activa portuguesa possuía qualificações iguais ou superiores ao ensino secundário, contra 70%, em média, na zona euro.
Nas qualificações houve bons progressos por cá, embora em termos relativos não tenhamos ganho grande coisa, porque os outros também melhoraram. Mas não basta. É preciso que existam empresas que dêem emprego a quem possua boas qualificações. Sabe-se como tal não acontece frequentemente entre nós – por isso emigram jovens com altas classificações académicas.
Ou seja, a bola está sobretudo do lado das empresas e dos seus gestores. Estes, em média, têm menos qualificações do que os trabalhadores, o que explica muita coisa. E as nossas pequenas empresas são, de facto, muito pequenas.
Sobretudo por causa disso, a maioria dos trabalhadores em Portugal labora com pouco capital. Pouco e decrescente, já que o investimento nas empresas privadas caiu a pique nos anos recentes (agora parece reanimar). Apesar da grande subida do desemprego, o volume de capital por trabalhador no nosso país foi em 2013 cerca de metade do registado, em média, no conjunto da zona euro.
Refere o Banco de Portugal que na indústria transformadora a taxa de utilização do capital instalado, que andou pelos 80% entre 1995 e 2007, ficou-se pelos 74% em 2013. Não surpreende, assim, que a produtividade per capita neste sector tenha caído 1,4% em 2011, 2,8% em 2012 e 0,4% no ano passado.
Só o investimento empresarial permitirá ultrapassar esta situação. O qual, de resto, é necessário para que muitas empresas aumentem a sua dimensão (o que melhorará a sua produtividade) e para que as exportações continuem a crescer. O investimento empresarial baixou 6,4% em 2013, após fortes quedas em anos anteriores. E só haverá recuperação significativa desse investimento quando existirem meios para o financiar, sabendo-se que as empresas portuguesas são as mais endividadas da UE.
As decisões que o BCE finalmente tomou há duas semanas deverão, a prazo, melhorar um pouco o acesso das empresas portuguesas ao crédito bancário. E outras medidas poderão surgir, prometeu Draghi. Entretanto, continuamos a aguardar o tão falado ‘banco de fomento’, que afinal será uma agência financeira, da qual se espera um contributo significativo para que as PME nacionais tenham um pouco mais de crédito.