Sexo, álcool e futebol

As notícias mais recentes acabaram quase por não ser notícia, tamanha a repetição da ladainha: Paul Gascoigne saiu da reabilitação, recuperou peso e ganhou físico, e disse que sim, que era desta que ia deixar de beber. Esta remonta a Abril deste ano, mas podia ter sido dada em 2010, 2008, 2004, 2000… E assim…

Gazza, como ficou conhecido pelos adeptos – que sempre celebraram um bom farrista que ultrapassa as marcas dentro e fora de campo – tornou-se sem querer um herói ao gosto dos tablóides do seu país. As festas antes dos treinos eram celebradas nessas páginas e o médio ofensivo transformou-se numa espécie de ícone profético de reality shows, mas vivia-os a sério. O seu comportamento errático levou a que um dos treinadores que se cruzou com ele, ainda no seu início de carreira no Newcastle, estabelecesse uma comparação com outra lenda do futebol: “Ele é um George Best, mas sem cérebro”. O norte-irlandês, morto em 2005 depois de vários jogos de glória e noitadas épicas, também era como um autocolante muito em voga nos vidros traseiros dos carros do Brasil nos anos 80: ‘movido a álcool’.

Gascoigne fez parte da selecção nacional que conseguiu o melhor feito desde a vitória no mundial de 66 – chegou às meias-finais do Itália 90, perdidas aos penáltis com a Alemanha. Mas a sua maior derrota foi a relação galopante que teve com a bebida. Em 1998, antes do primeiro internamento, tinha bebido 32 shots de whisky seguidos. As consequências eram fáceis de prever. 

Mas depois o tempo revelaria outros males, como a doença bipolar que lhe toldava sempre o comportamento. Já teve duas biografias publicadas e numa delas assumia que batia na ex-mulher.

Males de saias somados às farras também são uma constante. Se Gazza teve uma relação não paga com uma mulher (a que teve a disponibilidade mental de fazer vida a dois com ele) – não se lhe conhecem episódios de proezas sexuais por aí além – já outros não se podem gabar do mesmo. 

Na memória mais recente ficou o escândalo de uma festa que teve como protagonistas Karim Benzema – ainda hoje um esteio da selecção francesa –, Franck Ribéry, um dos ausentes de vulto deste mundial e o hoje ‘reformado’ Sidney Govou. 

Pouco antes do início do Mundial de 2010 na África do Sul, uma prostituta menor, a franco-marroquina Zahia Dehar, afirmava a pés juntos ter passado uma noite com todos eles, a troco de uma maquia choruda. A prostituição é legal em França, desde que os intervenientes tenham mais de 18 anos.

O caso fez correr rios de tinta, principalmente pelo lado moralista da questão, e acabou incendiado pela má prestação gaulesa naquela prova. 

Nesta constelação de bons jogadores e ainda melhores farristas o actual deputado Romário ocupa uma galáxia. De tanto abusar das pistas de dança em Barcelona, onde dava cartas com o búlgaro Stoichkov, colega de campo e de festas, o brasileiro acabou por ganhar um indulto do treinador da época, Johann Cruyff. A troco dos muitos golos com que conquistou vários campeonatos de Espanha, Romário podia entrar mais tarde nos treinos. O mesmo conselho avisado seguiu Carlos Alberto Parreira quando treinava o Brasil no Mundial de 1994. E o resultado foi positivo: a equipa traria o tetra para a sua vitrine de troféus, com Romário como melhor marcador.

Os brasileiros coleccionam histórias de festa e alguns filhos não programados pelo caminho. Que o diga Garrincha, que podia ser um ‘anjo de pernas tortas’, na expressão do escritor Nelson Rodrigues, mas não se ajeitava nada mal com elas, nem em campo, nem fora dele. Já consagrado em 1958, quando venceu com a selecção o mundial da Suécia, fez valer, mais uma vez, o mito do amante latino em terras nórdicas. Mas ninguém sabe se o artista – que teve uma relação tórrida com a cantora Elza Soares, com quem se viria casar e a ter filhos, do casamento dela e de outro anterior – chegou a conhecer o seu filho sueco, nascido, precisamente, um ano após o mundial que consagraria o Brasil pela primeira vez.

Se o ataque é a melhor defesa, como diz o La Palisse dos estádios, quem defende também sabe atacar. Que o diga Oliver Khan, durante anos o n.º1 da selecção alemã, que destruiu um mediático casamento com Simone ao assumir uma relação extra com Verena Kerth. É que, apesar das aparências, os germânicos não ficam atrás na libido. Nem o todo-poderoso e híper-respeitado Franz Beckenbauer se livrou das tentações. Em 2000, assumiu perante a segunda mulher, Sybille, que teve de reconhecer a paternidade de uma criança concebida durante uma festa de Natal do seu clube, o Bayern de Munique. Afinal, o Natal é quando um homem quiser… 

ricardo.nabais@sol.pt